segunda-feira, junho 22, 2009

Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr. e a historiografia brasileira

Achei bastante interessante esse texto. Como no momento não o tempo não está sendo meu aliado, deixo ele aqui sem comentário, pelo menos por enquanto. Pois tal escrito instiga um debate sem tamanho.
Enfim, parabenizo o autor identificado como "Miss Emery. E deixarei o site que divulga os seus textos:
Fazendo parte de uma grande geração de intelectuais, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Jr. relêem a história do Brasil de um novo lugar social, que é a universidade brasileira. Por sua vez, esta instituição tem suas normas, modelos, práticas e preocupações, situação que vai estruturar toda uma leitura de redescoberta das origens do país, na qual a sociedade figura como tema principal. Desta maneira, estes estudiosos percebem a história nacional não apenas através de sua política e de suas elites, mas também através de sua cultura, suas raízes e suas tradições.
Ao analisar o Brasil contemporâneo através do desenvolvimento de sua sociedade, estes pesquisadores exibem em seus trabalhos algo em comum, ao mesmo tempo em que diferenciam suas leituras através de suas referências teóricas, de seus instrumentos metodológicos e de suas demandas particulares. Devido a estas circunstâncias, o que se percebe são divergências e corroborações nos trabalhos propostos por Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Jr., que ao estudarem a temática das origens da sociedade brasileira, apresentam importantes obras para a historiografia nacional.
Gilberto Freyre em seu livro Casa Grande e Senzala, editado na década de 30 do século passado, apreende a sociedade brasileira, principalmente, através do hibridismo das três raças que constituem a maior parte da população do Brasil. Através desta entrada, Freyre exibe a mistura entre negro, índio e branco como algo positivo, pois, ao seu entendimento, a miscigenação é um dos elementos chave na conquista dos trópicos. Assim, este autor exibe uma reinterpretarão da mestiçagem da população brasileira, indo diretamente contra as teorias da época na qual sua obra foi lançada.
Freyre mostra os portugueses como um povo indefinido, que por si só já é híbrido, de sangue mourisco nas veias, vivendo em um país situado no limiar ocidental da Europa, ajustado ao clima do norte da África. Ele exibe a população portuguesa como um povo apto a colonização dos trópicos, devido ao seu caráter prontamente miscigenado, de grande mobilidade, de fácil adaptação às circunstâncias e ao clima. Assim, é na mistura desta gente já miscigenada, ao índio e ao negro, que Freyre percebeu o triunfo da colonização européia. Afirmando em seu livro: o português não: por toda aquelas felizes predisposições de raça, de mesologia e de cultura a que nos referimos, não só conseguiu vencer as condições de clima e de solo desfavoráveis ao estabelecimento de europeus nos trópicos, como suprir a extrema penúria de gente branca para a tarefa colonizadora unindo-se a mulher de cor. (1988, p.51)
Ao afirmar o benefício da miscigenação à colonização, Freyre expõe e argumenta algumas questões relevantes para se entender à sociedade e sociabilidade brasileira. Em Casa Grande e Senzala, este intelectual exibe ao Brasil a face agrária, escravocrata, patriarcal e híbrida da nação. Apresenta a sociedade brasileira através de sua cultura e de seus costumes, evidenciando o país como uma resultante, totalmente original, daquelas nações e povos que o formaram.
Outra questão abordada por Freyre, em seu livro, é a importância da família patriarcal na colonização e na formação da sociedade brasileira. Para ele, a família rural é o grande agente colonizador do território. A família patriarcal é “ o vivo e absorvente órgão da formação social brasileira, que reuniu sobre a base econômica da riqueza agrícola e do trabalho escravo, uma variedade de funções sociais e econômicas” . (ibidem, p.60)
Gilberto Freyre mostra que os vícios sociais não são por causa da miscigenação brasileira, mas sim, por causa atmosfera da monocultura escravocrata e da família patriarcal, que interferia diretamente no mando político. Ele vai diretamente contra a leitura evolucionista da época, ao contrapor a idéia de que o brasileiro era degenerado por causa do sangue negro e indígena, ao mesmo tempo em que revoga o etnocentrismo, ao avaliar a cultura brasileira através de valores próprios.
Portanto, Gilberto Freyre mostra em sua obra uma sociedade cheia de antagonismos ao expor a escravidão e o intercâmbio sexual, o contrate entres as três culturas formadoras do país, o sincretismo religioso. Ao buscar as origens da sociedade brasileira, ele apresenta uma sociedade nova, fomentada por diversos valores, original em relação às culturas que a constituiu. O que se vê em seu trabalho é uma forte referência ao culturalismo, que, segundo suas palavras, é:resultado de uma combinação nova de várias culturas que após um período mais ou menos agudo de crise, caracterizado por antagonismos ou divergências de ordem cultural, tenha atingido uma fase ou estado de interpretação fecunda de valores diversos daí resultando uma cultura diferenciada das de qualquer das origens. ( Idem, 1952)
Outra obra de grande valor a historiografia brasileira é o livro Formação do Brasil Contemporâneo, publicado pelo pesquisador Caio Prado Jr., em 1942. É nesta obra que ele apresenta a continuidade das estruturas coloniais na economia e na sociedade do Brasil presente.
De igual importância para historiografia brasileira é a obra Raízes do Brasil, escrita por Sérgio Buarque de Holanda, no ano de 1936. Neste livro o autor discute o choque entre a tradição e modernidade na sociedade brasileira. Para tal, ele busca nas raízes desta sociedade uma explicação para o atraso social existente no país, produzindo, ao mesmo tempo, hipóteses para uma possível superação deste retrocesso.
Segundo este autor, a formação do Brasil contemporâneo está diretamente ligada às origens da sociedade brasileira, ou seja, está atrelada a colonização e ao seu legado cultural, político e institucional. Assim, o tradicionalismo da política brasileira vem de seu passado ibérico, ou seja, de suas raízes.
Sérgio Buarque percebe que a modernização é impedida pela herança de uma tradição ibérica e que a absorção das instituições portuguesas, dotadas de uma historicidade própria, traz consigo uma incompatibilidade com o contexto social brasileiro, evidenciando uma incapacidade de mudança adaptativa as necessidades existentes. É através desta compreensão que ele formula alguns conceitos fundamentais ao entendimento de sua obra.
O primeiro conceito que ele usa para explicar a sociedade através de suas origens é a cultura da personalidade. Para ele, a cultura da personalidade é a frouxidão de laços sociais que implicam em formas de organização solidária e ordenada. É uma cultura que atribui valor ao indivíduo autônomo e não à organização espontânea, formada pela coesão social. Por sua vez, este predicado está intimamente ligado à outra herança ibérica, que é a repulsa ao trabalho. Segundo Sérgio Buarque de Holanda, “a carência dessa moral do trabalho se ajusta bem a uma reduzida capacidade de organização social. Efetivamente o esforço humilde, anônimo e desinteressado é agente poderoso da solidariedade dos interesses e, como tal, estimula a organização racional dos homens e sustenta a coesão entre eles”. (2000, p.39)
A segunda característica fundamental ao entendimento da sociedade contemporânea através de suas raízes é a ética da aventura. É através desta análise que Holanda explica como ocorreu a exploração das terras portuguesas no novo mundo. Também é através deste princípio que ele exibe a figura do aventureiro e do trabalhador – par ideal de conceitos antagônicos formulado pelo autor através de concepções weberianas. Para este estudioso, a colonização do Brasil foi promovida pelo espírito do português aventureiro, que exibe a mobilidade e a adaptabilidade, que nega a estabilidade e o planejamento, que corrobora com a cultura do ócio e se distingue do tipo trabalhador, e de sua ética do trabalho, que preza pelo “esforço sem perspectiva de rápido proveito material” (ibidem, p.44). Também é através dessa negação do trabalho, somada a falta de planejamento, a uma demanda de mercado e, a pequena população do reino, que aparece um dos principais elementos da colonização portuguesa no Brasil, a escravidão do africano.
Seguindo a análise feita por Sérgio Buarque de Holanda, encontra-se o terceiro conceito por ele formulado, o ruralismo. É nesta característica que aparece outro grande componente da sociedade brasileira, a família patriarcal. É a partir desta outra herança ibérica, que este estudioso propõe a quarta consideração sobre o tradicionalismo brasileiro, o homem cordial. Por sua vez, este é o símbolo da relação social sem formalidade, que leva para a vida pública a vida privada, ao propor acesso à existência política através de relações sociais de proximidade e afetividade.
Portanto, é através da busca das raízes da sociedade brasileira, que Sérgio Buarque de Holanda exibe a origem do tradicionalismo, ou seja, do conservadorismo que impede a modernização do Brasil através da constituição de um Estado Liberal. É através destas origens sociais, que ele insere sua argumentação crítica e propõe uma revolução pautada pela reforma política, pela busca da meritocracia, da impessoalidade na vida pública, pelo planejamento, pelo resultado em longo prazo, ou seja, pela criação de algo que atenda as necessidades modernizadoras da nação.
Ao reler a gênese da sociedade brasileira, Sérgio Buarque de Holanda lança mão de referências teóricas desenvolvidas pela sociologia alemã. Como já foi citado anteriormente, este estudioso se inspira na obra de Max Weber, principalmente, quando ele propõe um estado liberal à nação brasileira e expõe um par ideal de conceitos opostos, simbolizados pela figura do aventureiro e do trabalhador. Para ele a modernidade está inserida na cultura urbana, letrada, baseada no trabalho e no capitalismo.
Para tal, ele parte da premissa de que a história tem em sua evolução um sentido, ou seja, uma orientação que norteia os rumos da sociedade e da economia.
Por sua vez, Prado procura na origem da colonização o sentido histórico que baliza o presente nacional. Ele segue sua análise enfatizando a história do Brasil como um processo particular, que faz parte do processo geral que é a história do mundo moderno. Assim, ele percebe a colonização dos trópicos como um capítulo da história do comércio europeu, e, conclui que o sentido desta é dado pela empreitada comercial.
É após esta conclusão que sua argumentação se torna enfática, pois é a partir deste sentido que ele entende as estruturas que vão perpassar na sociedade de seu momento.
Em sua análise, Prado aborda questões deste passado colonial, geradas pelo sentido comercial, para sugerir algumas continuidades em questões do presente. Entre estas abordagens estão à economia agro-exportadora, arranjo econômico criado no passado e existente no presente; a escravidão moderna, decorrente da necessidade de mão-de-obra, que, segundo este autor, não contribuiu positivamente a sociedade, devido a sua função de mero instrumento gerador de força produtiva; o setor inorgânico da sociedade, formado por indivíduos que não se encaixam naquele perfil bipolar constituídos por senhores e escravos, não possuindo alguma força social; e, a família patriarcal, órgão basilar do domínio rural e da sociedade colonial, ainda presente na primeira metade do século XX.
Portanto, é a partir desta conclusão sobre o sentido comercial da colonização que Caio Prado Jr. tece a rede entre passado e presente, em uma frágil acepção evolutiva, devido à falta de rupturas. Ele identifica estruturas geradas pela empresa comercial, que estão intricadas não só em seu presente, mas em todos os momentos da história do Brasil, gerando um continuísmo político entre colônia, império e república.
Seguindo uma matriz marxista, Caio Prado Jr. percebe a história brasileira através do sentido evolutivo proposto por Marx. Sua construção de texto é bem clara em relação seus referenciais teóricos, devido ao uso de termos e estruturas de pensamento marxistas.
Por diversas vezes ele propõe em sua análise questões referentes a relações de desigualdade, a meios de produção e força de trabalho, a luta de classe, entre outras concepções de caráter marxista. Ao ver na história do Brasil um sentido, este autor recorre claramente ao materialismo histórico, que evidencia o permanente processo de produção de necessidades fundamentais ao capitalismo.
Deste modo, o que se percebe é o comum interesse nestes três autores ao buscarem no passado colonial subsídios que expliquem um Brasil contemporâneo a eles. A explicação da nação brasileira, através da temática de sua origem, é o principal traço de congruência entre estas três diferentes maneiras de perceber a sociedade brasileira.
Simultaneamente a esta linha geral de atuação existem outros pontos argumentativos que merecem destaque. Entre estes assuntos, pode-se citar a importância da família rural e patriarcal para o estudo da sociedade brasileira, que, em linhas gerais, é vista pelos três como uma herança ibérica que estrutura grande parte da organização política e social da nação. Outra questão comum, apesar de aparecer de forma divergente nas obras, é o grau de importância da escravidão africana e da miscigenação na sociedade. Para Freyre, estes são as representações do triunfo da colonização, devido ao seu caráter povoador, benéfico e culturalista. Para Sérgio Buarque, a escravidão africana é um dos elementos que sustenta a cultura do ócio, umas das principais características do grande agente colonizador, o aventureiro. Para Prado, a escravidão não contribui positivamente devido a sua funcionalidade, além de proporcionar uma população sem força social, que não está inserida dicotomia senhor e escravo, base da luta de classe do passado brasileiro.
Por fim, deve aqui também se destacar a visão que cada um tem sobre quem é o grande agente colonizador dos trópicos. Para o primeiro, a família rural, de caráter patriarcal, é a grande fonte da colonização. É ela que contribui à povoação do território. Para o segundo autor, o grande agente colonizador é o aventureiro, que com sua mobilidade e adaptabilidade desbravou um território ainda inóspito. E, para o último, o grande atuante da colonização foi a empresa comercial, que balizada por Estado mercantil, proporcionou necessidades inerentes a colonização.
BIBLIOGRAFIA
COSTA, Iraci del Nero. Repensando o modelo interpretativo de Caio Prado Jr. Disponível em: Acessado em: 13 de agosto de 2007.
FREYRE, Gilberto. Casa grande e senzala. São Paulo: Círculo do Livro S.A., 1988. 587 p.
FREYRE, Gilberto. Ainda a propósito do espírito de nacionalidade do Brasil. In: _____ Diário de Pernambuco. Recife: 1952. Disponível em: .Acessado em: 13 de agosto de 2007.
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
PRADO JR., Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Publifolha, 2000.

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Achei bastante interessante esse texto. Como no momento não o tempo não está sendo meu aliado, deixo ele aqui sem comentário, pelo menos por enquanto. Pois tal escrito instiga um debate sem tamanho.
Enfim, parabenizo o autor identificado como "Miss Emery. E deixarei o site que divulga os seus textos:
Fazendo parte de uma grande geração de intelectuais, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Jr. relêem a história do Brasil de um novo lugar social, que é a universidade brasileira. Por sua vez, esta instituição tem suas normas, modelos, práticas e preocupações, situação que vai estruturar toda uma leitura de redescoberta das origens do país, na qual a sociedade figura como tema principal. Desta maneira, estes estudiosos percebem a história nacional não apenas através de sua política e de suas elites, mas também através de sua cultura, suas raízes e suas tradições.
Ao analisar o Brasil contemporâneo através do desenvolvimento de sua sociedade, estes pesquisadores exibem em seus trabalhos algo em comum, ao mesmo tempo em que diferenciam suas leituras através de suas referências teóricas, de seus instrumentos metodológicos e de suas demandas particulares. Devido a estas circunstâncias, o que se percebe são divergências e corroborações nos trabalhos propostos por Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Jr., que ao estudarem a temática das origens da sociedade brasileira, apresentam importantes obras para a historiografia nacional.
Gilberto Freyre em seu livro Casa Grande e Senzala, editado na década de 30 do século passado, apreende a sociedade brasileira, principalmente, através do hibridismo das três raças que constituem a maior parte da população do Brasil. Através desta entrada, Freyre exibe a mistura entre negro, índio e branco como algo positivo, pois, ao seu entendimento, a miscigenação é um dos elementos chave na conquista dos trópicos. Assim, este autor exibe uma reinterpretarão da mestiçagem da população brasileira, indo diretamente contra as teorias da época na qual sua obra foi lançada.
Freyre mostra os portugueses como um povo indefinido, que por si só já é híbrido, de sangue mourisco nas veias, vivendo em um país situado no limiar ocidental da Europa, ajustado ao clima do norte da África. Ele exibe a população portuguesa como um povo apto a colonização dos trópicos, devido ao seu caráter prontamente miscigenado, de grande mobilidade, de fácil adaptação às circunstâncias e ao clima. Assim, é na mistura desta gente já miscigenada, ao índio e ao negro, que Freyre percebeu o triunfo da colonização européia. Afirmando em seu livro: o português não: por toda aquelas felizes predisposições de raça, de mesologia e de cultura a que nos referimos, não só conseguiu vencer as condições de clima e de solo desfavoráveis ao estabelecimento de europeus nos trópicos, como suprir a extrema penúria de gente branca para a tarefa colonizadora unindo-se a mulher de cor. (1988, p.51)
Ao afirmar o benefício da miscigenação à colonização, Freyre expõe e argumenta algumas questões relevantes para se entender à sociedade e sociabilidade brasileira. Em Casa Grande e Senzala, este intelectual exibe ao Brasil a face agrária, escravocrata, patriarcal e híbrida da nação. Apresenta a sociedade brasileira através de sua cultura e de seus costumes, evidenciando o país como uma resultante, totalmente original, daquelas nações e povos que o formaram.
Outra questão abordada por Freyre, em seu livro, é a importância da família patriarcal na colonização e na formação da sociedade brasileira. Para ele, a família rural é o grande agente colonizador do território. A família patriarcal é “ o vivo e absorvente órgão da formação social brasileira, que reuniu sobre a base econômica da riqueza agrícola e do trabalho escravo, uma variedade de funções sociais e econômicas” . (ibidem, p.60)
Gilberto Freyre mostra que os vícios sociais não são por causa da miscigenação brasileira, mas sim, por causa atmosfera da monocultura escravocrata e da família patriarcal, que interferia diretamente no mando político. Ele vai diretamente contra a leitura evolucionista da época, ao contrapor a idéia de que o brasileiro era degenerado por causa do sangue negro e indígena, ao mesmo tempo em que revoga o etnocentrismo, ao avaliar a cultura brasileira através de valores próprios.
Portanto, Gilberto Freyre mostra em sua obra uma sociedade cheia de antagonismos ao expor a escravidão e o intercâmbio sexual, o contrate entres as três culturas formadoras do país, o sincretismo religioso. Ao buscar as origens da sociedade brasileira, ele apresenta uma sociedade nova, fomentada por diversos valores, original em relação às culturas que a constituiu. O que se vê em seu trabalho é uma forte referência ao culturalismo, que, segundo suas palavras, é:resultado de uma combinação nova de várias culturas que após um período mais ou menos agudo de crise, caracterizado por antagonismos ou divergências de ordem cultural, tenha atingido uma fase ou estado de interpretação fecunda de valores diversos daí resultando uma cultura diferenciada das de qualquer das origens. ( Idem, 1952)
Outra obra de grande valor a historiografia brasileira é o livro Formação do Brasil Contemporâneo, publicado pelo pesquisador Caio Prado Jr., em 1942. É nesta obra que ele apresenta a continuidade das estruturas coloniais na economia e na sociedade do Brasil presente.
De igual importância para historiografia brasileira é a obra Raízes do Brasil, escrita por Sérgio Buarque de Holanda, no ano de 1936. Neste livro o autor discute o choque entre a tradição e modernidade na sociedade brasileira. Para tal, ele busca nas raízes desta sociedade uma explicação para o atraso social existente no país, produzindo, ao mesmo tempo, hipóteses para uma possível superação deste retrocesso.
Segundo este autor, a formação do Brasil contemporâneo está diretamente ligada às origens da sociedade brasileira, ou seja, está atrelada a colonização e ao seu legado cultural, político e institucional. Assim, o tradicionalismo da política brasileira vem de seu passado ibérico, ou seja, de suas raízes.
Sérgio Buarque percebe que a modernização é impedida pela herança de uma tradição ibérica e que a absorção das instituições portuguesas, dotadas de uma historicidade própria, traz consigo uma incompatibilidade com o contexto social brasileiro, evidenciando uma incapacidade de mudança adaptativa as necessidades existentes. É através desta compreensão que ele formula alguns conceitos fundamentais ao entendimento de sua obra.
O primeiro conceito que ele usa para explicar a sociedade através de suas origens é a cultura da personalidade. Para ele, a cultura da personalidade é a frouxidão de laços sociais que implicam em formas de organização solidária e ordenada. É uma cultura que atribui valor ao indivíduo autônomo e não à organização espontânea, formada pela coesão social. Por sua vez, este predicado está intimamente ligado à outra herança ibérica, que é a repulsa ao trabalho. Segundo Sérgio Buarque de Holanda, “a carência dessa moral do trabalho se ajusta bem a uma reduzida capacidade de organização social. Efetivamente o esforço humilde, anônimo e desinteressado é agente poderoso da solidariedade dos interesses e, como tal, estimula a organização racional dos homens e sustenta a coesão entre eles”. (2000, p.39)
A segunda característica fundamental ao entendimento da sociedade contemporânea através de suas raízes é a ética da aventura. É através desta análise que Holanda explica como ocorreu a exploração das terras portuguesas no novo mundo. Também é através deste princípio que ele exibe a figura do aventureiro e do trabalhador – par ideal de conceitos antagônicos formulado pelo autor através de concepções weberianas. Para este estudioso, a colonização do Brasil foi promovida pelo espírito do português aventureiro, que exibe a mobilidade e a adaptabilidade, que nega a estabilidade e o planejamento, que corrobora com a cultura do ócio e se distingue do tipo trabalhador, e de sua ética do trabalho, que preza pelo “esforço sem perspectiva de rápido proveito material” (ibidem, p.44). Também é através dessa negação do trabalho, somada a falta de planejamento, a uma demanda de mercado e, a pequena população do reino, que aparece um dos principais elementos da colonização portuguesa no Brasil, a escravidão do africano.
Seguindo a análise feita por Sérgio Buarque de Holanda, encontra-se o terceiro conceito por ele formulado, o ruralismo. É nesta característica que aparece outro grande componente da sociedade brasileira, a família patriarcal. É a partir desta outra herança ibérica, que este estudioso propõe a quarta consideração sobre o tradicionalismo brasileiro, o homem cordial. Por sua vez, este é o símbolo da relação social sem formalidade, que leva para a vida pública a vida privada, ao propor acesso à existência política através de relações sociais de proximidade e afetividade.
Portanto, é através da busca das raízes da sociedade brasileira, que Sérgio Buarque de Holanda exibe a origem do tradicionalismo, ou seja, do conservadorismo que impede a modernização do Brasil através da constituição de um Estado Liberal. É através destas origens sociais, que ele insere sua argumentação crítica e propõe uma revolução pautada pela reforma política, pela busca da meritocracia, da impessoalidade na vida pública, pelo planejamento, pelo resultado em longo prazo, ou seja, pela criação de algo que atenda as necessidades modernizadoras da nação.
Ao reler a gênese da sociedade brasileira, Sérgio Buarque de Holanda lança mão de referências teóricas desenvolvidas pela sociologia alemã. Como já foi citado anteriormente, este estudioso se inspira na obra de Max Weber, principalmente, quando ele propõe um estado liberal à nação brasileira e expõe um par ideal de conceitos opostos, simbolizados pela figura do aventureiro e do trabalhador. Para ele a modernidade está inserida na cultura urbana, letrada, baseada no trabalho e no capitalismo.
Para tal, ele parte da premissa de que a história tem em sua evolução um sentido, ou seja, uma orientação que norteia os rumos da sociedade e da economia.
Por sua vez, Prado procura na origem da colonização o sentido histórico que baliza o presente nacional. Ele segue sua análise enfatizando a história do Brasil como um processo particular, que faz parte do processo geral que é a história do mundo moderno. Assim, ele percebe a colonização dos trópicos como um capítulo da história do comércio europeu, e, conclui que o sentido desta é dado pela empreitada comercial.
É após esta conclusão que sua argumentação se torna enfática, pois é a partir deste sentido que ele entende as estruturas que vão perpassar na sociedade de seu momento.
Em sua análise, Prado aborda questões deste passado colonial, geradas pelo sentido comercial, para sugerir algumas continuidades em questões do presente. Entre estas abordagens estão à economia agro-exportadora, arranjo econômico criado no passado e existente no presente; a escravidão moderna, decorrente da necessidade de mão-de-obra, que, segundo este autor, não contribuiu positivamente a sociedade, devido a sua função de mero instrumento gerador de força produtiva; o setor inorgânico da sociedade, formado por indivíduos que não se encaixam naquele perfil bipolar constituídos por senhores e escravos, não possuindo alguma força social; e, a família patriarcal, órgão basilar do domínio rural e da sociedade colonial, ainda presente na primeira metade do século XX.
Portanto, é a partir desta conclusão sobre o sentido comercial da colonização que Caio Prado Jr. tece a rede entre passado e presente, em uma frágil acepção evolutiva, devido à falta de rupturas. Ele identifica estruturas geradas pela empresa comercial, que estão intricadas não só em seu presente, mas em todos os momentos da história do Brasil, gerando um continuísmo político entre colônia, império e república.
Seguindo uma matriz marxista, Caio Prado Jr. percebe a história brasileira através do sentido evolutivo proposto por Marx. Sua construção de texto é bem clara em relação seus referenciais teóricos, devido ao uso de termos e estruturas de pensamento marxistas.
Por diversas vezes ele propõe em sua análise questões referentes a relações de desigualdade, a meios de produção e força de trabalho, a luta de classe, entre outras concepções de caráter marxista. Ao ver na história do Brasil um sentido, este autor recorre claramente ao materialismo histórico, que evidencia o permanente processo de produção de necessidades fundamentais ao capitalismo.
Deste modo, o que se percebe é o comum interesse nestes três autores ao buscarem no passado colonial subsídios que expliquem um Brasil contemporâneo a eles. A explicação da nação brasileira, através da temática de sua origem, é o principal traço de congruência entre estas três diferentes maneiras de perceber a sociedade brasileira.
Simultaneamente a esta linha geral de atuação existem outros pontos argumentativos que merecem destaque. Entre estes assuntos, pode-se citar a importância da família rural e patriarcal para o estudo da sociedade brasileira, que, em linhas gerais, é vista pelos três como uma herança ibérica que estrutura grande parte da organização política e social da nação. Outra questão comum, apesar de aparecer de forma divergente nas obras, é o grau de importância da escravidão africana e da miscigenação na sociedade. Para Freyre, estes são as representações do triunfo da colonização, devido ao seu caráter povoador, benéfico e culturalista. Para Sérgio Buarque, a escravidão africana é um dos elementos que sustenta a cultura do ócio, umas das principais características do grande agente colonizador, o aventureiro. Para Prado, a escravidão não contribui positivamente devido a sua funcionalidade, além de proporcionar uma população sem força social, que não está inserida dicotomia senhor e escravo, base da luta de classe do passado brasileiro.
Por fim, deve aqui também se destacar a visão que cada um tem sobre quem é o grande agente colonizador dos trópicos. Para o primeiro, a família rural, de caráter patriarcal, é a grande fonte da colonização. É ela que contribui à povoação do território. Para o segundo autor, o grande agente colonizador é o aventureiro, que com sua mobilidade e adaptabilidade desbravou um território ainda inóspito. E, para o último, o grande atuante da colonização foi a empresa comercial, que balizada por Estado mercantil, proporcionou necessidades inerentes a colonização.
BIBLIOGRAFIA
COSTA, Iraci del Nero. Repensando o modelo interpretativo de Caio Prado Jr. Disponível em: Acessado em: 13 de agosto de 2007.
FREYRE, Gilberto. Casa grande e senzala. São Paulo: Círculo do Livro S.A., 1988. 587 p.
FREYRE, Gilberto. Ainda a propósito do espírito de nacionalidade do Brasil. In: _____ Diário de Pernambuco. Recife: 1952. Disponível em: .Acessado em: 13 de agosto de 2007.
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
PRADO JR., Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Publifolha, 2000.

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1 comentários:

Palas Athena disse...

Nem acredito que encontrei esse texto aqui, e ainda com um mínimo de citação.
Postei vários textos no shvoong, quando comecei minha graduação em história, com objetivo de ajudar outros estudantes com fontes, que as vezes não temos acesso direto. Fiz na maior inocência de aluno de início de curso. No fim, o máximo que consegui foi ser desapropriada dos meus próprios textos por gente inescrupulosa, que faz plágio descarado. O shvoong deixou de existir e hoje não tenho como provar o plágio em uma dissertação da UNB, que pegou meu texto de história da arte sobre o Wölfllin na íntegra.