domingo, julho 04, 2010

Sobre a Companhia Agrícola Harmonia - Catende.

Introdução:
O presente estudo está alicerçado em uma problematização sobre a experiência de autogestão da Companhia Agrícola Harmonia, gerida por antigos trabalhadores rurais ligados a usina Catende - Zona da Mata Sul de Pernambuco. Essa leitura parte da definição de que a presente companhia agrícola se configura como um marco importante para a história das lutas camponesas do século XX, manifestando assim, uma nova perspectiva na luta dos trabalhadores e trabalhadoras das áreas rurais, ao mesmo tempo que se quebraram velhos paradigmas ligado as relações sociais no campo. Mostrando que e a história se reconstruiu por meio da grandes lições que os trabalhadores e trabalhadoras, junto ao sindicalismo rural de Catende deixa como herança de um tempo.
Ao promover um estudo de caso sobre uma das maiores experiências de autogestão do país, tendo a consciência de que tal objeto de estudo foi resultado de uma grande luta dos trabalhadores que passavam grande parte de suas vidas na moenda da cana-de-açúcar é com absoluta certeza, uma tarefa bastante motivadora. Não somente, pela riqueza de questionamentos que tal experiência administrativa motiva a cerca dos valores sociais presentes em nossa sociedade, mas também, pelo romantismo revolucionário que essa história pode causar a qualquer um que estuda sobre as lutas camponesas.
Diante disso, objetivamos avaliar a atuação dos sindicatos e federações agrícolas no processo de compreensão sobre uma experiência de autogestão que se manifesta como uma alternativa viável para o desenvolvimento de regiões nordestinas marcadas notavelmente por heranças coloniais, como uma notória concentração fundiária nas mãos de poucos, altos índices de analfabetismo e um modo de vida bastante difícil para a realidade do pobre trabalhador rural.
Nesse contexto, quando problematizamos as relações de trabalho no campo, tendo em vista as lutas históricas e as atuais perspectivas do movimento camponês, passamos por uma gama de interpretações ligadas principalmente a estrutura econômica e fundiária brasileira. Diante disso, ao mesmo tempo que buscamos por soluções viáveis para a difícil vida do campo também refletimos sobre uma história de desigualdade e de injustiça que paira sobre a vida de indivíduos explorados por uma aristocracia ruralista.
Logo, como principal questionamento dessa primeira abordagem teórica seria: O que a autogestão promovida pela Companhia Agrícola Harmonia pode proporcionar de positivo para as relações de trabalho dentro das perspectivas das lutas sociais em Catende – Pernambuco? E o que podemos extrair como contribuição para a formulação de uma nova alternativa agrária para o Nordeste?

Uma Herança das Lutas Camponesas do Nordeste.
Em um primeiro momento, buscamos empreender esse estudo de caso, as margens da formação histórica do Brasil. Uma vez que para entendermos sobre o foco principal das lutas no campo seria fundamental enxergarmos o grande problema do acesso a terra. E com absoluta certeza, nesse fato, a história do Brasil foi marcada profundamente por uma estrutura fundiária baseada pelo latifúndio, a rapina e exclusão. Ou seja, a propriedade sempre foi motivo de disputas sociais e como causadora de segregação social em nosso país. Enfim, a questão agrária no país está profundamente ligada ao latifúndio e desde os primórdios da colonização a terra foi distribuída de forma que a geração de um problema social seria uma consequência notável, uma vez que, a distribuição fundiária gerou um grande processo de exclusão e gerou uma abismal separação entre as camadas sociais.

A propriedade de terra desde a colonização passou a ser algo particular, facilitando cada vez mais a dificuldade em se ter um pedaço de terra para dela desenvolver um trabalho. Uma vez que, a posse dessas terras estava ligada ao próprio status social que o indivíduo pertencera. Nesse contexto pertencer às elites dominantes seria uma qualidade sine qua nom para a obtenção de uma propriedade no Brasil.

E assim, o meio rural foi se formando, tendo em vista esse cenário social. Das Capitânias Hereditárias, passando pela Lei de Terras de 1850, ate o século XX com o processo de introdução do capital ao campo que os verdadeiros sujeitos da história rural brasileira tiveram que conviver com tanta exclusão, hipocrisia e promessas vazias que falavam na tão sonhada reforma agrária.

No entanto, a breve história rural do Brasil, também foi marcada por movimentos que reagiam a todo processo explorador das elites brasileiras, principalmente no século XX, período no qual o país sofre mudanças notórias, onde a produção rural passa por um extenso processo de capitalização da produção rural causaram mudanças sólidas nas relações sociais do campo, dificultando cada vez mais a posse da terra. Transformando o camponês em trabalhador rural, tendo em vista as transformações dos antigos engenhos Bangüês (engenhos que plantavam a cana de açúcar e lá mesmo produzia o açúcar) em engenhos anexados ás grandes usinas. “A penetração do capital na agricultura, conduzindo inexoravelmente á separação do produtor direto da terra e dos frutos de seu trabalho”.(AZEVÊDO, Fernando Antônio. AS LIGAS CAMPONESAS. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, p. 19).

Eis que a história durante o século XX presencia as ações dos movimentos políticos e sociais no meio rural, onde a resistência feita á articulação entre a propriedade fundiária e o capital industrial foi deveras importante para a consolidação de uma população rural organizada e atuante como sujeitos de sua contemporaneidade. Isso representou basicamente: “o papel e o significado político do movimento camponês nas décadas de cinqüenta e sessenta, em Pernambuco, e que se expressou através da ação das Ligas Camponesas e dos Sindicatos Rurais”. (AZEVÊDO, Fernando Antônio. AS LIGAS CAMPONESAS. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, p. 21).

Ao fazermos uma análise geral sobre as Ligas Camponesas organizadas inicialmente no Engenho da Galiléia, em Pernambuco, fato que foi, sem sombra de dúvidas, um “divisor de águas” para o as lutas sociais no campo. Vamos enxergar uma valorosa formação política e ideológica do camponês. Esse processo de formação também era um dos princípios das Ligas, ou seja, além de organizarem manifestos e comícios, também se observava a consciência formadora e crítica que as Ligas Camponesas tinha, em relação de organizar o “operariado” rural.

E foram essas e outras heranças que os atuais movimentos de trabalhadores rurais, hoje, organizados em torno de Sindicatos Rurais, da Comissão Pastoral da Terra ou de movimentos civis organizados como o próprio MST. Ganharam após o grande episódio da luta pela terra protagonizado em pleno contexto da Guerra Fria e que o termo Reforma Agrária, seria além de uma “heresia” para o imaginário conservador do latifundiário, seria também, uma grande ameaça de cristalização de ideologias socialistas no Brasil.

Fazer um paralelo com o que passou e o que vivemos é realmente entender o que é a história. Nessa conjuntura, pesquisar sobre os movimentos políticos do campo na atualidade é em poucas palavras, “reviver a luta do Francisco Julião e das Ligas Camponesas” na ânsia de uma reforma agrária e por uma melhor realidade para o trabalhador rural e para o camponês.

Como é visto, buscamos enriquecer o presente estudo, tendo em vista, a história dos movimentos sociais do nordeste. Essa retomada histórica será de grande valia pare entendermos sobre o importante momento histórico que a cidade de Catende, passou com a fundação da Companhia Agrícola Harmonia. surgida em 1993 como um projeto de autogestão articulado por 2.300 trabalhadores rurais demitidos pela usina após sua falência.

O projeto dos trabalhadores da Usina Catende envolve 48 engenhos/fazendas. Censo feito pelos sindicatos de trabalhadores rurais da região, em 1998, levantou que 11.804 pessoas moram nessas propriedades. A população economicamente ativa é de 6.225 pessoas. Há nessas propriedades 1.670 crianças e adolescentes entre 10 e 15 anos. O patrimônio envolve um parque industrial, uma hidroelétrica que gera energia própria, uma olaria, uma marcenaria, 48 engenhos, um hospital, 7 açudes e canais de irrigação, 26 mil hectares de terras, frota de veículos e implementos, entre tratores, caminhões e enchedeiras, rede ferroviária à margem da empresa, uma bacia hidrográfica com vários rios perenes. (NASCIMENTO, Cláudio "Do 'Beco dos Sapos' aos Canaviais de Catende",).


E devido a tal iniciativa protagonizada pelos trabalhadores, que a antiga usina Catende se transformou em um magnífico projeto gerador de emprego, através de uma economia coletiva e solidária com ampla participação do camponês nas deliberações grupais. De acordo com os próprios trabalhadores, a experiência coletiva de autogestão favoreceu bastante não somente a economia local voltada para a cana-de-açúcar, mas, também favoreceu o surgimento de uma diversidade agrícola nas terras que pertenciam a usina e era utilizada visando exclusivamente a produção da empresa.

Outro fator muito notável no discurso dos antigos trabalhadores da usina que hoje atua como agricultor ligado a Companhia é o fator da liberdade, em relação ao uso da terra. Haja vista que após o processo de desapropriação das terras antes pertencentes à usina, foi feita uma distribuição de terras para as famílias envolvidas no projeto da Companhia Agrícola Harmonia. Assim, os agricultores ligados ao projeto diversificam sua produção com a criação de gado; com a piscicultura e com a plantação de vários gêneros agrícolas em suas terras.

Por fim, o presente estudo de caso, não representa apenas uma página da história municipal de Catende, mas representa mais um capítulo das lutas sociais dos trabalhadores agrícolas, manifestando assim uma vitória expressiva das famílias camponesas sobre o excludente processo de modernização rural via uma segregação social e política do campesinato. Nesse contexto a história pode presenciar através da Companhia Agrícola Harmonia um venturoso relato de transformação social na vida de milhares de famílias, antes exploradas por usineiros.

Considerações Finais:

A guisa de uma plausível conclusão, podemos destacar que tal estudo é uma simples forma de contribuir para um resgate histórico sobre a difícil saga do trabalhador nordestino, desde as primeiras décadas da breve história do Brasil. È nesse contexto que podemos afirmar que os paradoxos sociais presente nas áreas rurais do nordeste brasileiro estão totalmente relacionados ao processo exclusivista da propriedade de terra, baseado na exploração e no latifúndio.

A Companhia Agrícola Harmonia é uma das muitas heranças que as Ligas Camponesas deixaram como ferramenta de transformação social, buscando sempre uma realidade mais justa e igualitária para o “vigoroso homem nordestino”.

Referencias Bibliográficas.

ANDRADE, Manuel Correia. Lutas Camponesas no Nordeste. 2ªed. São Paulo: Ática 1989.

__________. História das usinas de açúcar de Pernambuco. Recife: FJN. Ed. Massangana, 1989.

AZEVÊDO, Fernando Antônio. As Ligas Camponesas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

GONÇALVES & SILVA, O assucar e o algodão em Pernambuco. Recife: [s.n.], 1929.

MARANHÃO, João de Albuquerque. História da indústria açucareira no nordeste: o papel social de Catende. Rio de Janeiro: Briguiet, 1949.

MOURA, Severino. Senhores de engenho e usineiros, a nobreza de Pernambuco. Recife: Fiam, CEHM, Sindaçúcar, 1998.

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Introdução:
O presente estudo está alicerçado em uma problematização sobre a experiência de autogestão da Companhia Agrícola Harmonia, gerida por antigos trabalhadores rurais ligados a usina Catende - Zona da Mata Sul de Pernambuco. Essa leitura parte da definição de que a presente companhia agrícola se configura como um marco importante para a história das lutas camponesas do século XX, manifestando assim, uma nova perspectiva na luta dos trabalhadores e trabalhadoras das áreas rurais, ao mesmo tempo que se quebraram velhos paradigmas ligado as relações sociais no campo. Mostrando que e a história se reconstruiu por meio da grandes lições que os trabalhadores e trabalhadoras, junto ao sindicalismo rural de Catende deixa como herança de um tempo.
Ao promover um estudo de caso sobre uma das maiores experiências de autogestão do país, tendo a consciência de que tal objeto de estudo foi resultado de uma grande luta dos trabalhadores que passavam grande parte de suas vidas na moenda da cana-de-açúcar é com absoluta certeza, uma tarefa bastante motivadora. Não somente, pela riqueza de questionamentos que tal experiência administrativa motiva a cerca dos valores sociais presentes em nossa sociedade, mas também, pelo romantismo revolucionário que essa história pode causar a qualquer um que estuda sobre as lutas camponesas.
Diante disso, objetivamos avaliar a atuação dos sindicatos e federações agrícolas no processo de compreensão sobre uma experiência de autogestão que se manifesta como uma alternativa viável para o desenvolvimento de regiões nordestinas marcadas notavelmente por heranças coloniais, como uma notória concentração fundiária nas mãos de poucos, altos índices de analfabetismo e um modo de vida bastante difícil para a realidade do pobre trabalhador rural.
Nesse contexto, quando problematizamos as relações de trabalho no campo, tendo em vista as lutas históricas e as atuais perspectivas do movimento camponês, passamos por uma gama de interpretações ligadas principalmente a estrutura econômica e fundiária brasileira. Diante disso, ao mesmo tempo que buscamos por soluções viáveis para a difícil vida do campo também refletimos sobre uma história de desigualdade e de injustiça que paira sobre a vida de indivíduos explorados por uma aristocracia ruralista.
Logo, como principal questionamento dessa primeira abordagem teórica seria: O que a autogestão promovida pela Companhia Agrícola Harmonia pode proporcionar de positivo para as relações de trabalho dentro das perspectivas das lutas sociais em Catende – Pernambuco? E o que podemos extrair como contribuição para a formulação de uma nova alternativa agrária para o Nordeste?

Uma Herança das Lutas Camponesas do Nordeste.
Em um primeiro momento, buscamos empreender esse estudo de caso, as margens da formação histórica do Brasil. Uma vez que para entendermos sobre o foco principal das lutas no campo seria fundamental enxergarmos o grande problema do acesso a terra. E com absoluta certeza, nesse fato, a história do Brasil foi marcada profundamente por uma estrutura fundiária baseada pelo latifúndio, a rapina e exclusão. Ou seja, a propriedade sempre foi motivo de disputas sociais e como causadora de segregação social em nosso país. Enfim, a questão agrária no país está profundamente ligada ao latifúndio e desde os primórdios da colonização a terra foi distribuída de forma que a geração de um problema social seria uma consequência notável, uma vez que, a distribuição fundiária gerou um grande processo de exclusão e gerou uma abismal separação entre as camadas sociais.

A propriedade de terra desde a colonização passou a ser algo particular, facilitando cada vez mais a dificuldade em se ter um pedaço de terra para dela desenvolver um trabalho. Uma vez que, a posse dessas terras estava ligada ao próprio status social que o indivíduo pertencera. Nesse contexto pertencer às elites dominantes seria uma qualidade sine qua nom para a obtenção de uma propriedade no Brasil.

E assim, o meio rural foi se formando, tendo em vista esse cenário social. Das Capitânias Hereditárias, passando pela Lei de Terras de 1850, ate o século XX com o processo de introdução do capital ao campo que os verdadeiros sujeitos da história rural brasileira tiveram que conviver com tanta exclusão, hipocrisia e promessas vazias que falavam na tão sonhada reforma agrária.

No entanto, a breve história rural do Brasil, também foi marcada por movimentos que reagiam a todo processo explorador das elites brasileiras, principalmente no século XX, período no qual o país sofre mudanças notórias, onde a produção rural passa por um extenso processo de capitalização da produção rural causaram mudanças sólidas nas relações sociais do campo, dificultando cada vez mais a posse da terra. Transformando o camponês em trabalhador rural, tendo em vista as transformações dos antigos engenhos Bangüês (engenhos que plantavam a cana de açúcar e lá mesmo produzia o açúcar) em engenhos anexados ás grandes usinas. “A penetração do capital na agricultura, conduzindo inexoravelmente á separação do produtor direto da terra e dos frutos de seu trabalho”.(AZEVÊDO, Fernando Antônio. AS LIGAS CAMPONESAS. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, p. 19).

Eis que a história durante o século XX presencia as ações dos movimentos políticos e sociais no meio rural, onde a resistência feita á articulação entre a propriedade fundiária e o capital industrial foi deveras importante para a consolidação de uma população rural organizada e atuante como sujeitos de sua contemporaneidade. Isso representou basicamente: “o papel e o significado político do movimento camponês nas décadas de cinqüenta e sessenta, em Pernambuco, e que se expressou através da ação das Ligas Camponesas e dos Sindicatos Rurais”. (AZEVÊDO, Fernando Antônio. AS LIGAS CAMPONESAS. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, p. 21).

Ao fazermos uma análise geral sobre as Ligas Camponesas organizadas inicialmente no Engenho da Galiléia, em Pernambuco, fato que foi, sem sombra de dúvidas, um “divisor de águas” para o as lutas sociais no campo. Vamos enxergar uma valorosa formação política e ideológica do camponês. Esse processo de formação também era um dos princípios das Ligas, ou seja, além de organizarem manifestos e comícios, também se observava a consciência formadora e crítica que as Ligas Camponesas tinha, em relação de organizar o “operariado” rural.

E foram essas e outras heranças que os atuais movimentos de trabalhadores rurais, hoje, organizados em torno de Sindicatos Rurais, da Comissão Pastoral da Terra ou de movimentos civis organizados como o próprio MST. Ganharam após o grande episódio da luta pela terra protagonizado em pleno contexto da Guerra Fria e que o termo Reforma Agrária, seria além de uma “heresia” para o imaginário conservador do latifundiário, seria também, uma grande ameaça de cristalização de ideologias socialistas no Brasil.

Fazer um paralelo com o que passou e o que vivemos é realmente entender o que é a história. Nessa conjuntura, pesquisar sobre os movimentos políticos do campo na atualidade é em poucas palavras, “reviver a luta do Francisco Julião e das Ligas Camponesas” na ânsia de uma reforma agrária e por uma melhor realidade para o trabalhador rural e para o camponês.

Como é visto, buscamos enriquecer o presente estudo, tendo em vista, a história dos movimentos sociais do nordeste. Essa retomada histórica será de grande valia pare entendermos sobre o importante momento histórico que a cidade de Catende, passou com a fundação da Companhia Agrícola Harmonia. surgida em 1993 como um projeto de autogestão articulado por 2.300 trabalhadores rurais demitidos pela usina após sua falência.

O projeto dos trabalhadores da Usina Catende envolve 48 engenhos/fazendas. Censo feito pelos sindicatos de trabalhadores rurais da região, em 1998, levantou que 11.804 pessoas moram nessas propriedades. A população economicamente ativa é de 6.225 pessoas. Há nessas propriedades 1.670 crianças e adolescentes entre 10 e 15 anos. O patrimônio envolve um parque industrial, uma hidroelétrica que gera energia própria, uma olaria, uma marcenaria, 48 engenhos, um hospital, 7 açudes e canais de irrigação, 26 mil hectares de terras, frota de veículos e implementos, entre tratores, caminhões e enchedeiras, rede ferroviária à margem da empresa, uma bacia hidrográfica com vários rios perenes. (NASCIMENTO, Cláudio "Do 'Beco dos Sapos' aos Canaviais de Catende",).


E devido a tal iniciativa protagonizada pelos trabalhadores, que a antiga usina Catende se transformou em um magnífico projeto gerador de emprego, através de uma economia coletiva e solidária com ampla participação do camponês nas deliberações grupais. De acordo com os próprios trabalhadores, a experiência coletiva de autogestão favoreceu bastante não somente a economia local voltada para a cana-de-açúcar, mas, também favoreceu o surgimento de uma diversidade agrícola nas terras que pertenciam a usina e era utilizada visando exclusivamente a produção da empresa.

Outro fator muito notável no discurso dos antigos trabalhadores da usina que hoje atua como agricultor ligado a Companhia é o fator da liberdade, em relação ao uso da terra. Haja vista que após o processo de desapropriação das terras antes pertencentes à usina, foi feita uma distribuição de terras para as famílias envolvidas no projeto da Companhia Agrícola Harmonia. Assim, os agricultores ligados ao projeto diversificam sua produção com a criação de gado; com a piscicultura e com a plantação de vários gêneros agrícolas em suas terras.

Por fim, o presente estudo de caso, não representa apenas uma página da história municipal de Catende, mas representa mais um capítulo das lutas sociais dos trabalhadores agrícolas, manifestando assim uma vitória expressiva das famílias camponesas sobre o excludente processo de modernização rural via uma segregação social e política do campesinato. Nesse contexto a história pode presenciar através da Companhia Agrícola Harmonia um venturoso relato de transformação social na vida de milhares de famílias, antes exploradas por usineiros.

Considerações Finais:

A guisa de uma plausível conclusão, podemos destacar que tal estudo é uma simples forma de contribuir para um resgate histórico sobre a difícil saga do trabalhador nordestino, desde as primeiras décadas da breve história do Brasil. È nesse contexto que podemos afirmar que os paradoxos sociais presente nas áreas rurais do nordeste brasileiro estão totalmente relacionados ao processo exclusivista da propriedade de terra, baseado na exploração e no latifúndio.

A Companhia Agrícola Harmonia é uma das muitas heranças que as Ligas Camponesas deixaram como ferramenta de transformação social, buscando sempre uma realidade mais justa e igualitária para o “vigoroso homem nordestino”.

Referencias Bibliográficas.

ANDRADE, Manuel Correia. Lutas Camponesas no Nordeste. 2ªed. São Paulo: Ática 1989.

__________. História das usinas de açúcar de Pernambuco. Recife: FJN. Ed. Massangana, 1989.

AZEVÊDO, Fernando Antônio. As Ligas Camponesas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

GONÇALVES & SILVA, O assucar e o algodão em Pernambuco. Recife: [s.n.], 1929.

MARANHÃO, João de Albuquerque. História da indústria açucareira no nordeste: o papel social de Catende. Rio de Janeiro: Briguiet, 1949.

MOURA, Severino. Senhores de engenho e usineiros, a nobreza de Pernambuco. Recife: Fiam, CEHM, Sindaçúcar, 1998.

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