segunda-feira, setembro 06, 2010

Artigo: Formação Histórica da Região Nordeste.

Diante da diversidade histórica existente no Brasil, desde os remotos tempos coloniais até os dias contemporâneos, sempre encontramos o Nordeste, como uma importante região brasileira, não somente no contexto histórico, mas também,  na conjuntura econômica, política e cultural brasileira. Diante de tal raciocínio, esse texto que vou publicar, pretende abordar um pouco sobre do nordeste brasileiro, tendo em vista seus aspectos políticos e econômicos.




Formação Histórica da
Região Nordeste (I)


Discutir sobre a breve história do Brasil é sem sombras de dúvidas, voltar os olhos para a história do Nordeste, haja vista as suas notórias contribuições na formação social política e econômica do país. Pois bem, para entender o Nordeste é preciso saber como se deu seu povoamento, que atividades econômicas essas pessoas se dedicaram e principalmente como ocorreu à posse dessas terras e o relacionamento entre o dominante e dominado, já que se tratava de uma colônia de exploração.

Sabe-se que a economia brasileira nas primeiras décadas, em que se processou a ocupação portuguesa concentrava suas atividades, sobretudo, na produção de mercadorias exportáveis, visando o abastecimento do comércio internacional europeu. Entretanto, é válido ressaltar que, pelas diretrizes do pacto colonial, a coroa lusitana, dotada de um grande interesse mercantilista, fez do Brasil, uma grande lavoura de gêneros tropicais, enfatizando a cana-de-açúcar como produto chave para a obtenção de lucros exorbitantes.

Por volta de 1530, com o fim da euforia causada pelo ciclo do Pau-Brasil, os lusitanos passaram a introduzir nas terras brasileiras as lavouras de cana-de-açúcar, haja vista o notório valor que o açúcar tinha nos mercados ocidentais. A exploração de tal especiaria foi um fator estratégico para a continuidade do projeto colonizador metropolitano em terras americanas. Na época, os portugueses não dispunham de dinheiro suficiente para bancar os altos custos da implantação dos recursos necessários à produção e comercialização do açúcar, fator que proporcionou a Holanda, um papel relevante, tendo em vista, os financiamentos flamengos para a instalação dos engenhos, como também, na produção e comercialização do "ouro branco" para o Velho Mundo.

O engenho nordestino representava o centro da vida econômica e social. Baseado em uma extensa estrutura fundiária e de produção autônomo, produziam praticamente tudo o que consumiam. No período compreendido entre o século XVI e início do século XVII, os engenhos brasileiros foram os que mais produziam o açúcar do mundo. A sociedade açucareira era aristocrática, patriarcal, rural, escravista e principalmente marcada por um notório imobilismo social. A autoridade do senhor de engenho fazia-se presente junto à sua família, aos empregados, aos escravos e até às vilas próximas à sua propriedade. Além disso, eram os senhores de engenhos que controlavam as câmaras municipais e a vida colonial.

É válido destacar o fato que a população portuguesa nesta época, não era tão expressiva, o que tornava escassa a oferta da mão-de-obra requerida para a sociedade que estava se formando em pleno século XVI. No início, os primeiros senhores de engenho tentaram utilizar nas grandes lavouras agrícolas, o trabalho escravo indígena, uma vez que, a exploração do índio, já havia sido utilizada para a exploração do pau-brasil. Porém, com a empresa açucareira, tornou-se necessário impor um trabalho disciplinado e uma vigilância constante sobre o índio para forçá-lo ao trabalho. Com a baixa produtividade indígena, a solução seria a introdução da mão-de-obra negra escrava, que para eles possibilitava o aumento da produção e da renda.

O tráfico negreiro era uma atividade altamente lucrativa, pois o negro era adquirido praticamente de graça na África e vendido por preços altíssimos na Europa e posteriormente na América. Por esse motivo o tráfico teria que ser mantido e ampliado. Com o tempo, os escravos constituíam a maior parte da população brasileira e eram a base econômica da sociedade açucareira. Realizavam os trabalhos braçais numa jornada de sol a sol, sofrendo punições físicas e sendo observados atentamente pelos feitores. A maioria dos escravos eram designados aos excessivos trabalhos nas lavouras e na produção do açúcar; os demais realizavam trabalhos domésticos nas casas grande dos engenhos.

Já para desbravar e preparar convenientemente o terreno (tarefa custosa neste meio tropical e virgem tão hostil ao homem) tornava-se necessário o esforço reunido de muitos trabalhadores; não era empresa para pequenos proprietários isolados. Isto feito, a plantação, a colheita e o transporte do produto até os engenhos onde se preparava o açúcar, só se tornavam rendosos quando realizado em grandes volumes. Nestas condições, o pequeno produtor não podia subsistir. São sobretudo estas circunstâncias que determinarão o tipo de exploração agrária adotada no Brasil: a grande propriedade. (PRADO JR. p. 33.)


A Pecuária e o Povoamento do Sertão

A primeira fase da expansão territorial teve seu ponto de partida nas capitanias da Bahia e de Pernambuco. Segundo textos da época, foi principalmente em Pernambuco que os vaqueiros seguiram o curso dos rios em busca de pastagens para o gado. O avanço dos vaqueiros não se fez pacificamente, pois encontrou muitas vezes feroz resistência dos índios, mas conseguiram seguir para as terras cada vez mais distantes, onde surgiram feiras de gado e um efêmero comércio na colônia.

Foi somente com a descoberta das minas, no final do século XVII, que a pecuária ganhou vida própria, desvinculando-se da economia açucareira. A partir dessa época, os vaqueiros avançaram pelos sertões, criando, ao lado dos currais de gado, pequenos povoados e aldeias, determinando o povoamento do território semi-árido. Na região da mata não havia pastos, por isso, os animais necessários nos engenhos que resistiram a crise eram levados pelos vaqueiros, que não tinham muito acesso ao litoral. No século XVIII, completou-se a expansão e efetivou-se a colonização do interior, surgindo a figura do vaqueiro e a economia baseada no couro, já que tiveram que construir seus próprios instrumentos com a matéria-prima que tinha em mãos.

Mudanças na Economia do Nordeste

A descoberta do ouro deslocou o centro econômico colonial das capitanias do Nordeste para as regiões das minas. Isso provocou significativas mudanças na administração colonial e o Nordeste deixa de ser o grande pólo econômico que foi no início da colonização. É importante ressaltar, que a partir de então, toda atenção e progresso será dirigida ao Sul e Sudeste do país. O Nordeste vai sendo esquecido, as revoltas vão surgindo e pessoas sendo oprimidas pelos poucos poderosos, donos de quase toda terra. Já que a má distribuição da terra sempre foi um dos maiores problemas na formação desse espaço.

No final do século XVIII e início do século XIX, a Europa sofreu grandes transformações econômicas, sociais e políticas, causadas, principalmente, pela Revolução Industrial e Francesa e essas transformações provocou a substituição do capitalismo comercial pelo industrial. Esses fatores foram responsáveis por mudanças no sistema político e econômico que também afetaram as colônias. Lá na Europa desencadeou um enorme conflito entre a França e Inglaterra, que conseqüentemente vai impulsionar a Família Real partir para o Brasil, levando consigo a corte de Lisboa para o Rio de Janeiro, provocando assim mudanças significativas na conjuntura socioeconômica da colônia.

Mesmo com todas as mudanças ocorridas desde o século XVII, o Nordeste nunca perdeu seu brilho e nunca deixou de ser uma importante região para o Brasil, apesar da coroa lusitana não voltar mais tanta atenção para a região, tendo em vista a crise da produção açucareira e as mudanças econômicas ocorridas na colônia. Como foi afirmado anteriormente, falar na historia brasileiro, seja na perspectiva social, política, econômica e/ou cultural, temos como condição sine qua nom destacar a grande contribuição que o nordeste brasileiro somou a nossa história.

Decerto que as relações mercantilistas instituídas no período colonial brasileiro foram afetadas de forma visível após algumas modificações ocorridas no Brasil, como desenvolvimento de novas fontes econômicas em detrimento ao ciclo do açúcar e com o principio de uma modesta urbanização durante o período que a mineração se manifestava como atividade econômica em destaque, no entanto é válido desconstruir a impressão que o nordeste brasileiro se transformou apenas em um coadjuvante (se é que isso possa existir, no campo historiográfico contemporâneo) do processo histórico brasileiro nos últimos séculos do período Colonial e também durante o período imperial.

Sabe-se que o Nordeste desde o início do século XIX já estava plenamente cristalizado em predicados vinculados aos vários anos de produção agro-exportadora desenvolvido no período colonial, isto é: uma sociedade patriarcal, conservadora, católica, latifundiária e principalmente imóvel. Contudo, reduzir a própria história do Nordeste a essa perspectiva é negar as demais manifestações sociais protagonizada pela região durante o decorrer da cronologia histórica brasileira.

É muito válido observar que mesmo com o açúcar sofrendo com a concorrência internacional (antilhana), o algodão enfrentando uma desleal concorrência com o sul dos Estados Unidos, esses produtos ainda detinham um peso muito importante para o mercado regional interno, pode-se destacar também a própria cultura do fumo na Bahia que servia para dinamizar o comercio com escravos africanos. Enfim, é fundamental que se avalie a região nordestina não como um local de importância finita para a história do Brasil, e sim, conceber a região tendo em vista a sua importância histórica e econômica em todas as lacunas cronológicas da História brasileira.

Com absoluta certeza, o objetivo central desse estudo científico não é evocar em todo o seu conteúdo a história do nordeste brasileiro, contudo, a guisa de uma maior explanação sobre o cenário que o tema abordado nas linhas adiante está inserido, é de fundamental importância proporcionar um espaço para uma breve reflexão histórica sobre a região nordestina do país.

O Século XIX e o Nordeste Brasileiro

A presença da corte de Lisboa no Brasil devido a conturbações internacionais provocou satisfatórias mudanças na dinâmica social da colônia, haja vista que, as bases mercantilistas que estruturava a economia local fora atacada pelas mudanças ou modernidades trazidas pelo liberalismo econômico. 1808 sem dúvidas, representou um divisor de águas para a nossa história cultural, política e econômica, no entanto, como foi ponderado anteriormente, que não se cometa o erro de se refletir sobre a história com o olhos voltados para as mudanças ocorridas no Rio de Janeiro, e sim, é importante avaliar o Brasil como um todo.

Ao avaliarmos sobre as transformações sociais ocorridas no Brasil durante o período de 1808 até 1822, teríamos que citar como tarefa obrigatória para qualquer historiador, cientista social ou humanista, o revolucionário processo ocorrido no Nordeste em 1817, quando a região esse encontrava com os ânimos atribulados, tendo em vista a conjuntura econômica brasileira em tal momento histórico. O ciclo revolucionário nordestino foi um dos momentos mais explosivos e importantes da história brasileira do século XIX. (LOPEZ, p. 22).

As relações entre brasileiros e portugueses não eram nada amistosas, somando a esse panorama, destaca-se também a situação econômica que o Nordeste passava, onde tanto a classe latifundiária quanto as camadas populares não encontravam meios para que a situação fosse modificada, haja vista que, o monopólio sobre o Brasil prejudicava bastante o desenvolvimento econômico da região. Ideologicamente as camadas sociais não tinham interesse em comum, no entanto a hostilidade ao lusitano era uma constante em todos os setores sociais do Brasil.

Com o centralismo político proveniente do Rio de Janeiro devido a instalação a Corte Portuguesa, os ânimos nordestinos se alteram, eclodindo assim um importante fato histórico em 1817, revelando a fragilidade que as estruturas coloniais se encontravam na primeira metade do século XIX.
Independente se o fato histórico ocorrido em 1817 no Nordeste possa ser considerado como uma revolução ou como uma revolta, é válido que podemos ressaltar, sem qualquer problema, que mais uma vez a região nordestina contribuiu de forma bastante plausível para o processo de independência política do Brasil em relação a Portugal, mostrando o quão estava vulnerável o sistema colonial mercantilista que a nação lusitana aplicava em um contexto histórico que já não abrangia as expectativas de tal regime econômico.

Além de protagonizar de forma bastante definida em todos os momentos do período colonial, é de grandiosa necessidade destacar um Nordeste, valente e aguerrido no panorama político e nacional durante o período imperial, Logicamente que tal região historicamente importante para o Brasil não iria está submissa mais uma vez ao centralismo da monarquia brasileira, principalmente, após o caráter autoritário proveniente da autoridade do poder moderador implantado como poder constitucional em 1824. E nesse contexto, em Pernambuco, foi reacendido o caráter revolucionário do Nordeste brasileiro, iniciado na outrora em 1817. A Confederação do Equador foi mais uma prova que não se administra um Estado de forma isolada e com cobrança de altos impostos nas províncias.

As províncias confederadas passaram a defender um republicanismo federalista, liberal e democrático, através de um movimento separatista. No entanto, mesmo travando um embate bastante complexo para o contexto cronológico a qual a confederação estava inserida, mesmo fracassando, não podemos negar que a luta de Frei Caneca junto aos demais líderes, fora mais uma prova do caráter político da população nordestina, tendo em vista as explorações que a região sofria com o autoritarismo de D. Pedro I.

Os primeiros anos da monarquia brasileira não passaram de forma serena, isso é fato, ainda mais se somando ao fato da administração de D. Pedro I, e foi nessa conjuntura que o Brasil pode enxergar que a Confederação do Equador serviu como um alerta sobre as crises sociais que a região se configurava durante o império.

Com absoluta certeza, os gritos de liberdade que ecoaram do Nordeste brasileiro ficaram registrados nas linhas da historiografia política nacional, ser nordestino não é fácil, a história é uma grande testemunhas das tantas explorações, desigualdades e injustiças que o cenário nordestino foi e ainda é alvo.

Pois bem, dando continuidade a saga política nordestina durante o século XIX, destaca-se como o ultimo dos grandes movimentos políticos da região a própria Revolução Praieira, ampliando ainda mais as convulsões sociais, retomando assim o caráter subversivo frente à exploração do latifúndio, das altas tributações e problemas sociais que ocorriam na região, no entanto, pode-se assinalar que devido a tais conturbações, a classe popular defendida por grupos liberais de esfera mais radicalizada se voltou contra a elite latifundiária de Pernambuco, demonstrando ainda mais que os paradoxos sociais do nordeste brasileiro sempre fora o motivo primordial para o surgimento de lutas sociais de importância relevante para a formação política do Brasil.

Enfim, o presente estudo procura mostrar de uma forma sistemática, não somente a seriedade histórica do nordeste brasileiro, e sim, trabalhar a imagem da região, como ela realmente deve ser vista. Um espaço geopolítico onde as lutas sociais surgem frente às inúmeras problemáticas sociais e demandas econômicas da região, mesmo assim, o homem nordestino, antes de qualquer coisa é um grande guerreiro da história, sua saga, pode ser confundida com a de qualquer outro ícone de nossa historiografia. São heróis, geralmente anônimos, mas que mesmo assim, não cansam de lutar e abstrair em seu imaginário, uma realidade mais satisfatória para a vida sofrida de um homem nordestino.


REFERÊNCIAS.



DANTAS, José. História do Brasil: das origens aos dias atuais. São Paulo: Moderna, 1989.

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 26 ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1997.

LOPEZ, Luiz Roberto. História do Brasil Imperial. 6ª ed. Rio Grande do Sul: Mercado Aberto.

PRADO JUNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 40. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993.

WEHLING, Arno, WEHLING, Maria José C. de. Formação do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.

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Diante da diversidade histórica existente no Brasil, desde os remotos tempos coloniais até os dias contemporâneos, sempre encontramos o Nordeste, como uma importante região brasileira, não somente no contexto histórico, mas também,  na conjuntura econômica, política e cultural brasileira. Diante de tal raciocínio, esse texto que vou publicar, pretende abordar um pouco sobre do nordeste brasileiro, tendo em vista seus aspectos políticos e econômicos.




Formação Histórica da
Região Nordeste (I)


Discutir sobre a breve história do Brasil é sem sombras de dúvidas, voltar os olhos para a história do Nordeste, haja vista as suas notórias contribuições na formação social política e econômica do país. Pois bem, para entender o Nordeste é preciso saber como se deu seu povoamento, que atividades econômicas essas pessoas se dedicaram e principalmente como ocorreu à posse dessas terras e o relacionamento entre o dominante e dominado, já que se tratava de uma colônia de exploração.

Sabe-se que a economia brasileira nas primeiras décadas, em que se processou a ocupação portuguesa concentrava suas atividades, sobretudo, na produção de mercadorias exportáveis, visando o abastecimento do comércio internacional europeu. Entretanto, é válido ressaltar que, pelas diretrizes do pacto colonial, a coroa lusitana, dotada de um grande interesse mercantilista, fez do Brasil, uma grande lavoura de gêneros tropicais, enfatizando a cana-de-açúcar como produto chave para a obtenção de lucros exorbitantes.

Por volta de 1530, com o fim da euforia causada pelo ciclo do Pau-Brasil, os lusitanos passaram a introduzir nas terras brasileiras as lavouras de cana-de-açúcar, haja vista o notório valor que o açúcar tinha nos mercados ocidentais. A exploração de tal especiaria foi um fator estratégico para a continuidade do projeto colonizador metropolitano em terras americanas. Na época, os portugueses não dispunham de dinheiro suficiente para bancar os altos custos da implantação dos recursos necessários à produção e comercialização do açúcar, fator que proporcionou a Holanda, um papel relevante, tendo em vista, os financiamentos flamengos para a instalação dos engenhos, como também, na produção e comercialização do "ouro branco" para o Velho Mundo.

O engenho nordestino representava o centro da vida econômica e social. Baseado em uma extensa estrutura fundiária e de produção autônomo, produziam praticamente tudo o que consumiam. No período compreendido entre o século XVI e início do século XVII, os engenhos brasileiros foram os que mais produziam o açúcar do mundo. A sociedade açucareira era aristocrática, patriarcal, rural, escravista e principalmente marcada por um notório imobilismo social. A autoridade do senhor de engenho fazia-se presente junto à sua família, aos empregados, aos escravos e até às vilas próximas à sua propriedade. Além disso, eram os senhores de engenhos que controlavam as câmaras municipais e a vida colonial.

É válido destacar o fato que a população portuguesa nesta época, não era tão expressiva, o que tornava escassa a oferta da mão-de-obra requerida para a sociedade que estava se formando em pleno século XVI. No início, os primeiros senhores de engenho tentaram utilizar nas grandes lavouras agrícolas, o trabalho escravo indígena, uma vez que, a exploração do índio, já havia sido utilizada para a exploração do pau-brasil. Porém, com a empresa açucareira, tornou-se necessário impor um trabalho disciplinado e uma vigilância constante sobre o índio para forçá-lo ao trabalho. Com a baixa produtividade indígena, a solução seria a introdução da mão-de-obra negra escrava, que para eles possibilitava o aumento da produção e da renda.

O tráfico negreiro era uma atividade altamente lucrativa, pois o negro era adquirido praticamente de graça na África e vendido por preços altíssimos na Europa e posteriormente na América. Por esse motivo o tráfico teria que ser mantido e ampliado. Com o tempo, os escravos constituíam a maior parte da população brasileira e eram a base econômica da sociedade açucareira. Realizavam os trabalhos braçais numa jornada de sol a sol, sofrendo punições físicas e sendo observados atentamente pelos feitores. A maioria dos escravos eram designados aos excessivos trabalhos nas lavouras e na produção do açúcar; os demais realizavam trabalhos domésticos nas casas grande dos engenhos.

Já para desbravar e preparar convenientemente o terreno (tarefa custosa neste meio tropical e virgem tão hostil ao homem) tornava-se necessário o esforço reunido de muitos trabalhadores; não era empresa para pequenos proprietários isolados. Isto feito, a plantação, a colheita e o transporte do produto até os engenhos onde se preparava o açúcar, só se tornavam rendosos quando realizado em grandes volumes. Nestas condições, o pequeno produtor não podia subsistir. São sobretudo estas circunstâncias que determinarão o tipo de exploração agrária adotada no Brasil: a grande propriedade. (PRADO JR. p. 33.)


A Pecuária e o Povoamento do Sertão

A primeira fase da expansão territorial teve seu ponto de partida nas capitanias da Bahia e de Pernambuco. Segundo textos da época, foi principalmente em Pernambuco que os vaqueiros seguiram o curso dos rios em busca de pastagens para o gado. O avanço dos vaqueiros não se fez pacificamente, pois encontrou muitas vezes feroz resistência dos índios, mas conseguiram seguir para as terras cada vez mais distantes, onde surgiram feiras de gado e um efêmero comércio na colônia.

Foi somente com a descoberta das minas, no final do século XVII, que a pecuária ganhou vida própria, desvinculando-se da economia açucareira. A partir dessa época, os vaqueiros avançaram pelos sertões, criando, ao lado dos currais de gado, pequenos povoados e aldeias, determinando o povoamento do território semi-árido. Na região da mata não havia pastos, por isso, os animais necessários nos engenhos que resistiram a crise eram levados pelos vaqueiros, que não tinham muito acesso ao litoral. No século XVIII, completou-se a expansão e efetivou-se a colonização do interior, surgindo a figura do vaqueiro e a economia baseada no couro, já que tiveram que construir seus próprios instrumentos com a matéria-prima que tinha em mãos.

Mudanças na Economia do Nordeste

A descoberta do ouro deslocou o centro econômico colonial das capitanias do Nordeste para as regiões das minas. Isso provocou significativas mudanças na administração colonial e o Nordeste deixa de ser o grande pólo econômico que foi no início da colonização. É importante ressaltar, que a partir de então, toda atenção e progresso será dirigida ao Sul e Sudeste do país. O Nordeste vai sendo esquecido, as revoltas vão surgindo e pessoas sendo oprimidas pelos poucos poderosos, donos de quase toda terra. Já que a má distribuição da terra sempre foi um dos maiores problemas na formação desse espaço.

No final do século XVIII e início do século XIX, a Europa sofreu grandes transformações econômicas, sociais e políticas, causadas, principalmente, pela Revolução Industrial e Francesa e essas transformações provocou a substituição do capitalismo comercial pelo industrial. Esses fatores foram responsáveis por mudanças no sistema político e econômico que também afetaram as colônias. Lá na Europa desencadeou um enorme conflito entre a França e Inglaterra, que conseqüentemente vai impulsionar a Família Real partir para o Brasil, levando consigo a corte de Lisboa para o Rio de Janeiro, provocando assim mudanças significativas na conjuntura socioeconômica da colônia.

Mesmo com todas as mudanças ocorridas desde o século XVII, o Nordeste nunca perdeu seu brilho e nunca deixou de ser uma importante região para o Brasil, apesar da coroa lusitana não voltar mais tanta atenção para a região, tendo em vista a crise da produção açucareira e as mudanças econômicas ocorridas na colônia. Como foi afirmado anteriormente, falar na historia brasileiro, seja na perspectiva social, política, econômica e/ou cultural, temos como condição sine qua nom destacar a grande contribuição que o nordeste brasileiro somou a nossa história.

Decerto que as relações mercantilistas instituídas no período colonial brasileiro foram afetadas de forma visível após algumas modificações ocorridas no Brasil, como desenvolvimento de novas fontes econômicas em detrimento ao ciclo do açúcar e com o principio de uma modesta urbanização durante o período que a mineração se manifestava como atividade econômica em destaque, no entanto é válido desconstruir a impressão que o nordeste brasileiro se transformou apenas em um coadjuvante (se é que isso possa existir, no campo historiográfico contemporâneo) do processo histórico brasileiro nos últimos séculos do período Colonial e também durante o período imperial.

Sabe-se que o Nordeste desde o início do século XIX já estava plenamente cristalizado em predicados vinculados aos vários anos de produção agro-exportadora desenvolvido no período colonial, isto é: uma sociedade patriarcal, conservadora, católica, latifundiária e principalmente imóvel. Contudo, reduzir a própria história do Nordeste a essa perspectiva é negar as demais manifestações sociais protagonizada pela região durante o decorrer da cronologia histórica brasileira.

É muito válido observar que mesmo com o açúcar sofrendo com a concorrência internacional (antilhana), o algodão enfrentando uma desleal concorrência com o sul dos Estados Unidos, esses produtos ainda detinham um peso muito importante para o mercado regional interno, pode-se destacar também a própria cultura do fumo na Bahia que servia para dinamizar o comercio com escravos africanos. Enfim, é fundamental que se avalie a região nordestina não como um local de importância finita para a história do Brasil, e sim, conceber a região tendo em vista a sua importância histórica e econômica em todas as lacunas cronológicas da História brasileira.

Com absoluta certeza, o objetivo central desse estudo científico não é evocar em todo o seu conteúdo a história do nordeste brasileiro, contudo, a guisa de uma maior explanação sobre o cenário que o tema abordado nas linhas adiante está inserido, é de fundamental importância proporcionar um espaço para uma breve reflexão histórica sobre a região nordestina do país.

O Século XIX e o Nordeste Brasileiro

A presença da corte de Lisboa no Brasil devido a conturbações internacionais provocou satisfatórias mudanças na dinâmica social da colônia, haja vista que, as bases mercantilistas que estruturava a economia local fora atacada pelas mudanças ou modernidades trazidas pelo liberalismo econômico. 1808 sem dúvidas, representou um divisor de águas para a nossa história cultural, política e econômica, no entanto, como foi ponderado anteriormente, que não se cometa o erro de se refletir sobre a história com o olhos voltados para as mudanças ocorridas no Rio de Janeiro, e sim, é importante avaliar o Brasil como um todo.

Ao avaliarmos sobre as transformações sociais ocorridas no Brasil durante o período de 1808 até 1822, teríamos que citar como tarefa obrigatória para qualquer historiador, cientista social ou humanista, o revolucionário processo ocorrido no Nordeste em 1817, quando a região esse encontrava com os ânimos atribulados, tendo em vista a conjuntura econômica brasileira em tal momento histórico. O ciclo revolucionário nordestino foi um dos momentos mais explosivos e importantes da história brasileira do século XIX. (LOPEZ, p. 22).

As relações entre brasileiros e portugueses não eram nada amistosas, somando a esse panorama, destaca-se também a situação econômica que o Nordeste passava, onde tanto a classe latifundiária quanto as camadas populares não encontravam meios para que a situação fosse modificada, haja vista que, o monopólio sobre o Brasil prejudicava bastante o desenvolvimento econômico da região. Ideologicamente as camadas sociais não tinham interesse em comum, no entanto a hostilidade ao lusitano era uma constante em todos os setores sociais do Brasil.

Com o centralismo político proveniente do Rio de Janeiro devido a instalação a Corte Portuguesa, os ânimos nordestinos se alteram, eclodindo assim um importante fato histórico em 1817, revelando a fragilidade que as estruturas coloniais se encontravam na primeira metade do século XIX.
Independente se o fato histórico ocorrido em 1817 no Nordeste possa ser considerado como uma revolução ou como uma revolta, é válido que podemos ressaltar, sem qualquer problema, que mais uma vez a região nordestina contribuiu de forma bastante plausível para o processo de independência política do Brasil em relação a Portugal, mostrando o quão estava vulnerável o sistema colonial mercantilista que a nação lusitana aplicava em um contexto histórico que já não abrangia as expectativas de tal regime econômico.

Além de protagonizar de forma bastante definida em todos os momentos do período colonial, é de grandiosa necessidade destacar um Nordeste, valente e aguerrido no panorama político e nacional durante o período imperial, Logicamente que tal região historicamente importante para o Brasil não iria está submissa mais uma vez ao centralismo da monarquia brasileira, principalmente, após o caráter autoritário proveniente da autoridade do poder moderador implantado como poder constitucional em 1824. E nesse contexto, em Pernambuco, foi reacendido o caráter revolucionário do Nordeste brasileiro, iniciado na outrora em 1817. A Confederação do Equador foi mais uma prova que não se administra um Estado de forma isolada e com cobrança de altos impostos nas províncias.

As províncias confederadas passaram a defender um republicanismo federalista, liberal e democrático, através de um movimento separatista. No entanto, mesmo travando um embate bastante complexo para o contexto cronológico a qual a confederação estava inserida, mesmo fracassando, não podemos negar que a luta de Frei Caneca junto aos demais líderes, fora mais uma prova do caráter político da população nordestina, tendo em vista as explorações que a região sofria com o autoritarismo de D. Pedro I.

Os primeiros anos da monarquia brasileira não passaram de forma serena, isso é fato, ainda mais se somando ao fato da administração de D. Pedro I, e foi nessa conjuntura que o Brasil pode enxergar que a Confederação do Equador serviu como um alerta sobre as crises sociais que a região se configurava durante o império.

Com absoluta certeza, os gritos de liberdade que ecoaram do Nordeste brasileiro ficaram registrados nas linhas da historiografia política nacional, ser nordestino não é fácil, a história é uma grande testemunhas das tantas explorações, desigualdades e injustiças que o cenário nordestino foi e ainda é alvo.

Pois bem, dando continuidade a saga política nordestina durante o século XIX, destaca-se como o ultimo dos grandes movimentos políticos da região a própria Revolução Praieira, ampliando ainda mais as convulsões sociais, retomando assim o caráter subversivo frente à exploração do latifúndio, das altas tributações e problemas sociais que ocorriam na região, no entanto, pode-se assinalar que devido a tais conturbações, a classe popular defendida por grupos liberais de esfera mais radicalizada se voltou contra a elite latifundiária de Pernambuco, demonstrando ainda mais que os paradoxos sociais do nordeste brasileiro sempre fora o motivo primordial para o surgimento de lutas sociais de importância relevante para a formação política do Brasil.

Enfim, o presente estudo procura mostrar de uma forma sistemática, não somente a seriedade histórica do nordeste brasileiro, e sim, trabalhar a imagem da região, como ela realmente deve ser vista. Um espaço geopolítico onde as lutas sociais surgem frente às inúmeras problemáticas sociais e demandas econômicas da região, mesmo assim, o homem nordestino, antes de qualquer coisa é um grande guerreiro da história, sua saga, pode ser confundida com a de qualquer outro ícone de nossa historiografia. São heróis, geralmente anônimos, mas que mesmo assim, não cansam de lutar e abstrair em seu imaginário, uma realidade mais satisfatória para a vida sofrida de um homem nordestino.


REFERÊNCIAS.



DANTAS, José. História do Brasil: das origens aos dias atuais. São Paulo: Moderna, 1989.

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 26 ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1997.

LOPEZ, Luiz Roberto. História do Brasil Imperial. 6ª ed. Rio Grande do Sul: Mercado Aberto.

PRADO JUNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 40. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993.

WEHLING, Arno, WEHLING, Maria José C. de. Formação do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.

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2 comentários:

Unknown disse...

Muito boa a viagem histórica pelo nordeste, professor.

Anaibaf disse...

Que maravilhoso. Gratidão por tão vasta explanação.