terça-feira, junho 14, 2011

Jornal do Commércio: Apareceu a Rebelde de 79.

Excelente matéria públicada no Jornal do Commércio de Terça Feira (14), sobre a famosa fotografia da pequena garota de braços cruzados, frente ao então presidente Figueiredo, em 1979, durante a cerimônia de lançamento do primeiro carro a álcool fabricado no Brasil. A reportagem foi de autoria de Sérgio Montenegro Filho.


Em 1979, Rachel Clemens Coelho era criança de apenas 4 anos de idade, mas tomou uma iniciativa que a maioria dos adultos não se atreveria: cruzou os braços e se negou, terminantemente, a cumprimentar o então presidente da República, João Baptista Figueiredo, o último do ciclo dos generais do regime militar em 1964. Embora se tratasse de uma cerimônia pública o lançamento do primeiro carro a álcool fabricado no Brasil apenas um fotógrafo registrou o gesto de rebeldia. E o clique de Guinaldo Nicolaevsky, então repórter-fotográfico de O Globo, se espalhou pelo País e até no estrangeiro, a despeito dos esforços da repressão para detê-lo.

Nos 32 anos seguintes, a identidade da pequena rebelde permaneceu desconhecida. O próprio Nicolaevsky empreendeu inúmeros esforços para encontrá-la, mas faleceu em 27 de maio de 2008, sem sucesso. Algumas semanas antes, com o colega já bastante adoentado, o editor do site fotográfico Pictura Pixel, Cláudio Versiani, lançou uma campanha pela internet para tentar localizar a garota e promover o reencontro. No dia 23 de março de 2008, o Jornal do Commercio registrou a iniciativa e publicou uma entrevista com Nicolaevsky, na qual ele narrou a sua trajetória profissional, que inclui algumas prisões e interrogatórios, inclusive pelo trabalho em questão.

O fotógrafo contou ainda que o rolo do filme chegou a ser confiscado pelos militares, mas ele conseguiu salvar alguns negativos e enviá-los a jornais independentes do País e no exterior. Fui ameaçado de dispensa caso não enviasse o filme, sem contá-lo, no primeiro vôo para o Rio. Não publicaram nada. Cheguei a ser ameaçado, lembrou, na entrevista.

Apesar da campanha para localizar a garota ter ganhado corpo na internet em 2008, inclusive com o apoio de vários blogs jornalísticos, somente no início deste mês Rachel apareceu. No último dia 11, entrevistada pela Globonews, ela afastou a tese cogitada na época de que teria sido instrumentalizada para causar constrangimento ao general-presidente. Em seu blog pessoal, ela detalhou a sua versão: queria dizer a Figueiredo que seu pai, um funcionário do Dnit, almoçaria com ele na solenidade. Com o tumulto, não conseguiu dar o recado e fez a birra. Só o cumprimentaria depois que ele a ouvisse. Rachel admitiu, no entanto, ter ficado feliz quando, mais velha, percebeu que seu gesto serviu de alento para muitos brasileiros contrários à ditadura militar, inclusive crianças da época que tiveram os pais presos por ordem do regime
Excelente matéria públicada no Jornal do Commércio de Terça Feira (14), sobre a famosa fotografia da pequena garota de braços cruzados, frente ao então presidente Figueiredo, em 1979, durante a cerimônia de lançamento do primeiro carro a álcool fabricado no Brasil. A reportagem foi de autoria de Sérgio Montenegro Filho.


Em 1979, Rachel Clemens Coelho era criança de apenas 4 anos de idade, mas tomou uma iniciativa que a maioria dos adultos não se atreveria: cruzou os braços e se negou, terminantemente, a cumprimentar o então presidente da República, João Baptista Figueiredo, o último do ciclo dos generais do regime militar em 1964. Embora se tratasse de uma cerimônia pública o lançamento do primeiro carro a álcool fabricado no Brasil apenas um fotógrafo registrou o gesto de rebeldia. E o clique de Guinaldo Nicolaevsky, então repórter-fotográfico de O Globo, se espalhou pelo País e até no estrangeiro, a despeito dos esforços da repressão para detê-lo.

Nos 32 anos seguintes, a identidade da pequena rebelde permaneceu desconhecida. O próprio Nicolaevsky empreendeu inúmeros esforços para encontrá-la, mas faleceu em 27 de maio de 2008, sem sucesso. Algumas semanas antes, com o colega já bastante adoentado, o editor do site fotográfico Pictura Pixel, Cláudio Versiani, lançou uma campanha pela internet para tentar localizar a garota e promover o reencontro. No dia 23 de março de 2008, o Jornal do Commercio registrou a iniciativa e publicou uma entrevista com Nicolaevsky, na qual ele narrou a sua trajetória profissional, que inclui algumas prisões e interrogatórios, inclusive pelo trabalho em questão.

O fotógrafo contou ainda que o rolo do filme chegou a ser confiscado pelos militares, mas ele conseguiu salvar alguns negativos e enviá-los a jornais independentes do País e no exterior. Fui ameaçado de dispensa caso não enviasse o filme, sem contá-lo, no primeiro vôo para o Rio. Não publicaram nada. Cheguei a ser ameaçado, lembrou, na entrevista.

Apesar da campanha para localizar a garota ter ganhado corpo na internet em 2008, inclusive com o apoio de vários blogs jornalísticos, somente no início deste mês Rachel apareceu. No último dia 11, entrevistada pela Globonews, ela afastou a tese cogitada na época de que teria sido instrumentalizada para causar constrangimento ao general-presidente. Em seu blog pessoal, ela detalhou a sua versão: queria dizer a Figueiredo que seu pai, um funcionário do Dnit, almoçaria com ele na solenidade. Com o tumulto, não conseguiu dar o recado e fez a birra. Só o cumprimentaria depois que ele a ouvisse. Rachel admitiu, no entanto, ter ficado feliz quando, mais velha, percebeu que seu gesto serviu de alento para muitos brasileiros contrários à ditadura militar, inclusive crianças da época que tiveram os pais presos por ordem do regime

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