terça-feira, maio 01, 2012

Coluna: Manuel Correia de Andrade.

Poder Político e Coronelismo.
 Publicado em 05.11.2006 

Da maior importância é o livro lançado pelo diplomata André Heráclio do Rego – tomando como tema central a figura do seu tio-avô, Francisco Heráclio do Rego, popularmente chamado coronel Chico Heráclio, e a sua ação política em Pernambuco e na Paraíba, sobretudo no Agreste. O fenômeno do coronelismo vem sendo estudado faz tempo por especialistas famosos como Victor Nunes Leal, em Coronelismo, enxada e voto, Maria Izaura Pereira de Queiroz, Marcos Vilaça e Roberto Cavalcanti, com Coronel, coronéis, no qual analisam a ação de quatro poderosos coronéis pernambucanos de meados do século 20. Livros marcantes porque, sem desprezar fundamentos teórico-metodológicos, aprofundam-se no empírico, coletando informações sobre a ação de coronéis pernambucanos que conheceram pessoalmente. 

André Heráclio do Rego, com forte formação jurídica e sociológica e uma paciência meticulosidade de diplomata, procurou conciliar estudos científicos, sociais e as informações obtidas em família, não só na convivência com parentes mais idosos como também em pesquisas em cartórios. A larga convivência que teve com o avô, coronel Jerônimo Heráclio do Rego, com tios, irmãos, primos, e amigos ajudaram-no a armazenar informações que foram organizadas e transformadas em um rico arquivo. Também os anos de estudo no Recife, na Faculdade de Direito, em Brasília, no Itamarati, e na Universidade de Paris, além das viagens freqüentes nacionais internacionais, levaram-no a aprimorar sua capacidade de pesquisa e reflexão, capacitando-o a escrever um livro que merece ser lido tanto por cientistas sociais como por interessados em genealogia, folcloristas e literatos. 

Ao estudar o coronelismo, o autor foi ao encontro do que Caio Prado Júnior chamou de sentido da colonização que os portugueses desenvolveram no Brasil, na vasta colônia de Santa Cruz, desde do século 16, quando procuraram implantar um sistema de exploração da terra em benefício da metrópole, que ao mesmo tempo utilizava a mão-de-obra forçada do nativo e dos negros trazidos da África. 

Depois do estudo mais geral em que os grandes sociólogos e historiadores brasileiros são objetos de discussão, Heráclio do Rego passa a fazer a análise de sua família, com boa base genealógica, mostrando como ela se formou no Agreste pernambucano e nos Cariris Velhos paraibanos, procurando consolidar um forte sentimento de solidariedade familiar, assim como de alianças políticas com outros grupos sociais e econômicos. Ocorre, porém, que a família procura consolidar sua importância voltando-se para os clássicos, com a utilização de nomes próprios romanos e bizantinos, como Heráclio e Otaviano, e na expansão de suas propriedades com a aquisição de terras no Agreste. E formou laços políticos com as oligarquias dominantes, como Rosa e Silva, em Pernambuco, após a proclamação da República, e com Agamenon Magalhães após o Estado Novo. 

Os oligarcas sabiam combater inimigos e ao mesmo tempo fazer alianças com diversas correntes políticas, até com a esquerda, como Miguel Arraes de Alencar, líder popular e ao mesmo tempo originário e ligado a uma das mais famosas famílias do Sertão de Pernambuco e do Ceará, com Pelópidas Silveira, engenheiro e professor universitário que era um esquerdista mais ameno, Paulo Cavalcanti, que apesar de comunista militante fazia questão do seu “i” no fim do sobrenome e outras figuras respeitáveis. Os coronéis, como salienta Heráclio do Rego, sabiam usar os “favores da lei para os seus amigos” e “as penas da lei para os seus inimigos”. Tinham o cuidado de não perder eleições em seus municípios, reunindo sempre que podiam numerosos deles, exigir obediência cega dos seus eleitores, alargar as terras de que dispunham e combater os inimigos que procuravam disputar espaços políticos e econômicos. Em contraposição, davam proteção absoluta a seus protegidos e se opunham aos que o enfrentavam nos seus domínios ou em suas adjacências.
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Poder Político e Coronelismo.
 Publicado em 05.11.2006 

Da maior importância é o livro lançado pelo diplomata André Heráclio do Rego – tomando como tema central a figura do seu tio-avô, Francisco Heráclio do Rego, popularmente chamado coronel Chico Heráclio, e a sua ação política em Pernambuco e na Paraíba, sobretudo no Agreste. O fenômeno do coronelismo vem sendo estudado faz tempo por especialistas famosos como Victor Nunes Leal, em Coronelismo, enxada e voto, Maria Izaura Pereira de Queiroz, Marcos Vilaça e Roberto Cavalcanti, com Coronel, coronéis, no qual analisam a ação de quatro poderosos coronéis pernambucanos de meados do século 20. Livros marcantes porque, sem desprezar fundamentos teórico-metodológicos, aprofundam-se no empírico, coletando informações sobre a ação de coronéis pernambucanos que conheceram pessoalmente. 

André Heráclio do Rego, com forte formação jurídica e sociológica e uma paciência meticulosidade de diplomata, procurou conciliar estudos científicos, sociais e as informações obtidas em família, não só na convivência com parentes mais idosos como também em pesquisas em cartórios. A larga convivência que teve com o avô, coronel Jerônimo Heráclio do Rego, com tios, irmãos, primos, e amigos ajudaram-no a armazenar informações que foram organizadas e transformadas em um rico arquivo. Também os anos de estudo no Recife, na Faculdade de Direito, em Brasília, no Itamarati, e na Universidade de Paris, além das viagens freqüentes nacionais internacionais, levaram-no a aprimorar sua capacidade de pesquisa e reflexão, capacitando-o a escrever um livro que merece ser lido tanto por cientistas sociais como por interessados em genealogia, folcloristas e literatos. 

Ao estudar o coronelismo, o autor foi ao encontro do que Caio Prado Júnior chamou de sentido da colonização que os portugueses desenvolveram no Brasil, na vasta colônia de Santa Cruz, desde do século 16, quando procuraram implantar um sistema de exploração da terra em benefício da metrópole, que ao mesmo tempo utilizava a mão-de-obra forçada do nativo e dos negros trazidos da África. 

Depois do estudo mais geral em que os grandes sociólogos e historiadores brasileiros são objetos de discussão, Heráclio do Rego passa a fazer a análise de sua família, com boa base genealógica, mostrando como ela se formou no Agreste pernambucano e nos Cariris Velhos paraibanos, procurando consolidar um forte sentimento de solidariedade familiar, assim como de alianças políticas com outros grupos sociais e econômicos. Ocorre, porém, que a família procura consolidar sua importância voltando-se para os clássicos, com a utilização de nomes próprios romanos e bizantinos, como Heráclio e Otaviano, e na expansão de suas propriedades com a aquisição de terras no Agreste. E formou laços políticos com as oligarquias dominantes, como Rosa e Silva, em Pernambuco, após a proclamação da República, e com Agamenon Magalhães após o Estado Novo. 

Os oligarcas sabiam combater inimigos e ao mesmo tempo fazer alianças com diversas correntes políticas, até com a esquerda, como Miguel Arraes de Alencar, líder popular e ao mesmo tempo originário e ligado a uma das mais famosas famílias do Sertão de Pernambuco e do Ceará, com Pelópidas Silveira, engenheiro e professor universitário que era um esquerdista mais ameno, Paulo Cavalcanti, que apesar de comunista militante fazia questão do seu “i” no fim do sobrenome e outras figuras respeitáveis. Os coronéis, como salienta Heráclio do Rego, sabiam usar os “favores da lei para os seus amigos” e “as penas da lei para os seus inimigos”. Tinham o cuidado de não perder eleições em seus municípios, reunindo sempre que podiam numerosos deles, exigir obediência cega dos seus eleitores, alargar as terras de que dispunham e combater os inimigos que procuravam disputar espaços políticos e econômicos. Em contraposição, davam proteção absoluta a seus protegidos e se opunham aos que o enfrentavam nos seus domínios ou em suas adjacências.
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