sexta-feira, junho 01, 2012

Coluna: Manuel Correia de Andrade.

O Semi-Árido Nordestino*
Publicado em 01.07.2007

É ponto pacífico que uma região semi-árida ou árida se caracteriza pela escassez de precipitações pluviométricas, que provocam a perda da umidade do solo, quer pelo escoamento fluvial, quer pela evaporação. Daí, alguns estudiosos procurarem caracterizar o árido e o semi-árido em função da quantidade de chuvas caídas na região, esquecendo que este indicador deve ser comparado com outros, como a distribuição das chuvas durante o ano, a formação geológica, com dominância de rochas sedimentares ou cristalinas, a inclinação do relevo, etc. 

No caso do Nordeste brasileiro, há uma particularidade importante: é que ele se situa em região sub-equatorial, entre os 3º e os 16º de latitude Sul, enquanto os desertos e regiões semi-áridas se localizam, em geral, nas regiões tropicais, de onde partem massas de ar secas em direção ao Equador, como ocorre em vários continentes, sobretudo na África. No Nordeste, o Semi-Árido se expande até o litoral, nas costas do Ceará e do Rio Grande do norte, enquanto os desertos e semi-desertos não tropicais se localizam a grandes distâncias do oceano. 

A região seca do Nordeste se estende desde o Ceará, ao norte, até Minas Gerais, ao sul, ora com maior, ora com menor largura. Ela é limitada ao leste pela chamada Região da Mata, que vai do Rio Grande do Norte até o sul da Bahia, tendo sido coberta, no passado, por uma floresta tropical (Mata Atlântica) com características bem diversas daquelas vistas na Floresta Amazônica. Esta floresta tropical está hoje praticamente destruída, em conseqüência da ocupação da área litorânea e da expansão de culturas de exportação, como a cana-de-açúcar e o cacau. A oeste, o Semi-Árido se expande até o Maranhão, quando é substituído por clima úmido, que vai se tornando cada vez mais úmido à proporção que se caminha para a Amazônia. 

 Não se pode admitir uniformidade para o Semi-Árido nordestino, uma vez que condições meteorológicas, geológicas e morfológicas provocam modificações nas suas diversas áreas, havendo trechos em que o clima pode ser considerado como semi-úmido e trechos onde pode ser considerado como semi-árido. 

 Por sua vez, Ab"Sáber, partindo de estudos feitos por George H. Harghreaves, admite a existência de quatro tipos de clima no Nordeste: o semi-árido moderado, o semi-árido rústico, o semi-árido acentuado sub-desértico e o sub-úmido passando a úmido. Daí se concluir que este estudioso admite a existência de um clima árido no Nordeste. Observando-se o mapa da região, vê-se que a porção árida compreende o trecho central da região, de forma que a aridez é acentuada na porção em que domina as estruturas cristalinas e é atenuada nas porções onde dominam formações sedimentares, essa atenuação da aridez é conseqüência da capacidade de armazenar água nas formações sedimentares, permitindo que se perfurem poços de média e grande profundidades. Nessas áreas, quando o relevo é mais acentuado, como na Chapada do Araripe, as águas se infiltram até encontrar rochas impermeáveis e inclinadas que atingem a superfície nos vales e depressões, dando origem a fontes temporárias e permanentes. No caso do Araripe, em que as camadas se inclinam na direção Sul/Norte, as fontes aparecem em território cearense, no Vale do Cariri, possibilitando a formação de verdadeiro oásis de mais de 9.000 km². 

 Além do regime pluviométrico, entre as condições meteorológicas merecem atenção a temperatura, que é elevada durante todo o ano, provocando uma alta taxa de evaporação. Essa evaporação se acentua devido às precipitações que são sempre nos meses de verão, quando a temperatura é mais elevada. 

* Este é o último artigo escrito para o JC pelo historiador e geógrafo Manuel Correia de Andrade, que faleceu na madrugada de 22 de junho último.
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O Semi-Árido Nordestino*
Publicado em 01.07.2007

É ponto pacífico que uma região semi-árida ou árida se caracteriza pela escassez de precipitações pluviométricas, que provocam a perda da umidade do solo, quer pelo escoamento fluvial, quer pela evaporação. Daí, alguns estudiosos procurarem caracterizar o árido e o semi-árido em função da quantidade de chuvas caídas na região, esquecendo que este indicador deve ser comparado com outros, como a distribuição das chuvas durante o ano, a formação geológica, com dominância de rochas sedimentares ou cristalinas, a inclinação do relevo, etc. 

No caso do Nordeste brasileiro, há uma particularidade importante: é que ele se situa em região sub-equatorial, entre os 3º e os 16º de latitude Sul, enquanto os desertos e regiões semi-áridas se localizam, em geral, nas regiões tropicais, de onde partem massas de ar secas em direção ao Equador, como ocorre em vários continentes, sobretudo na África. No Nordeste, o Semi-Árido se expande até o litoral, nas costas do Ceará e do Rio Grande do norte, enquanto os desertos e semi-desertos não tropicais se localizam a grandes distâncias do oceano. 

A região seca do Nordeste se estende desde o Ceará, ao norte, até Minas Gerais, ao sul, ora com maior, ora com menor largura. Ela é limitada ao leste pela chamada Região da Mata, que vai do Rio Grande do Norte até o sul da Bahia, tendo sido coberta, no passado, por uma floresta tropical (Mata Atlântica) com características bem diversas daquelas vistas na Floresta Amazônica. Esta floresta tropical está hoje praticamente destruída, em conseqüência da ocupação da área litorânea e da expansão de culturas de exportação, como a cana-de-açúcar e o cacau. A oeste, o Semi-Árido se expande até o Maranhão, quando é substituído por clima úmido, que vai se tornando cada vez mais úmido à proporção que se caminha para a Amazônia. 

 Não se pode admitir uniformidade para o Semi-Árido nordestino, uma vez que condições meteorológicas, geológicas e morfológicas provocam modificações nas suas diversas áreas, havendo trechos em que o clima pode ser considerado como semi-úmido e trechos onde pode ser considerado como semi-árido. 

 Por sua vez, Ab"Sáber, partindo de estudos feitos por George H. Harghreaves, admite a existência de quatro tipos de clima no Nordeste: o semi-árido moderado, o semi-árido rústico, o semi-árido acentuado sub-desértico e o sub-úmido passando a úmido. Daí se concluir que este estudioso admite a existência de um clima árido no Nordeste. Observando-se o mapa da região, vê-se que a porção árida compreende o trecho central da região, de forma que a aridez é acentuada na porção em que domina as estruturas cristalinas e é atenuada nas porções onde dominam formações sedimentares, essa atenuação da aridez é conseqüência da capacidade de armazenar água nas formações sedimentares, permitindo que se perfurem poços de média e grande profundidades. Nessas áreas, quando o relevo é mais acentuado, como na Chapada do Araripe, as águas se infiltram até encontrar rochas impermeáveis e inclinadas que atingem a superfície nos vales e depressões, dando origem a fontes temporárias e permanentes. No caso do Araripe, em que as camadas se inclinam na direção Sul/Norte, as fontes aparecem em território cearense, no Vale do Cariri, possibilitando a formação de verdadeiro oásis de mais de 9.000 km². 

 Além do regime pluviométrico, entre as condições meteorológicas merecem atenção a temperatura, que é elevada durante todo o ano, provocando uma alta taxa de evaporação. Essa evaporação se acentua devido às precipitações que são sempre nos meses de verão, quando a temperatura é mais elevada. 

* Este é o último artigo escrito para o JC pelo historiador e geógrafo Manuel Correia de Andrade, que faleceu na madrugada de 22 de junho último.
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