quarta-feira, setembro 05, 2012

Coluna: Manuel Correia de Andrade.

O fim da Iugoslávia 
Publicado em 18.06.2006 

A república da Iugoslávia, após uma agonia que perdura há 15 anos, foi extinta em conseqüência de um plebiscito que separou as duas últimas repúblicas que a formavam: Montenegro e Sérvia. Na verdade, a Iugoslávia foi um país formado por povos eslavos que estiveram durante séculos dominados por dois impérios não eslavos, o austro-húngaro, dominantemente germânico, e o turco, muçulmano. 

Esta divisão criou culturas diferentes, de vez que ao norte formaram-se a Eslovênia e a Croácia, sob forte influência alemã e católica, e ao sul dominou a cultura grega na Sérvia, na Macedônia, e em Montenegro, da religião ortodoxa. No centro, na Bósnia-Herzegovina, numerosos eslavos se converteram ao islamismo, formando um bolsão muçulmano em plena Europa. Na realidade, apesar da influência da religião cristã ortodoxa, ocorre a existência de muçulmanos numerosos na Albânia, na Bósnia e na Macedônia. As diferenças religiosas entre católicos e ortodoxos, por um lado e entre cristãos e muçulmanos por outro complica muito o xadrez político balcânico. E como entre estes povos os que tem maior importância política são os croatas e os sérvios, as divergências entre os dois são cada vez mais aguçadas e as guerras balcânicas são muito freqüentes. 

A unificação política que se seguiu à Primeira Guerra Mundial provocou a criação do Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, tendo como soberano o rei da Sérvia. Só em 1929 é que, admitindo a consolidação da união política, o país passou a se denominar Iugoslávia ou Slavia do Sul. O rei porém tinha grande vocação ditatorial e impôs um regime autoritário, que provocou em 1934 o seu assassinato. O herdeiro do trono era menor de idade e o regente de forte vocação autoritária aproximou-se durante a Segunda Guerra Mundial da Alemanha hitlerista. Um golpe palaciano o destituiu do poder e levou a Iugoslávia a apoiar os aliados e a Alemanha a invadi-la de forma fulminante, ocupando imediatamente todo o país. Durante o domínio alemão a Croácia foi separada da Sérvia e recebeu tratamento de aliada ao Eixo. Foi transformada em reino e teve como soberano o duque de Spoleto, sobrinho do rei da Itália. 

Os iugoslavos lutaram contra o domínio do Eixo e, conduzidos pelo marechal Tito, conseguiram após a guerra recuperar a independência e a unidade. Tito, comunista, não aceitou ficar na área de influência britânica e tratou de construir no seu país um sistema socialista baseado na autogestão, contrariando Stalin, que o expulsou da Internacional Comunista. Reorganizou o país como uma república federativa, composta de seis repúblicas autônomas – Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia, Montenegro e Macedônia. Criou ainda duas províncias autônomas sob administração sérvia, a Voivedina, habitada por minoria húngara, e o Kosovo, com população dominantemente albanesa. 

Apesar das disputas internas de ordem étnica e religiosa, a Iugoslávia viveu seus grandes dias durante o longo governo de Tito. Seu socialismo autogestionário foi respeitado e imitado em vários países. A morte de Tito e as aspirações de dominação política da Sérvia provou o desejo de independência das repúblicas que compunham a Iugoslávia e a conseqüente proclamação da independência da Eslovênia em 1991, seguida da independência da Croácia, que deu origem a cruenta guerra civil, face ao fato de haver fortes minorias servias na mesma, seguida da luta na Bósnia. Esta provocaria a intervenção européia e a independência de mais dois países, sendo que a Bósnia-Herzegovina, por ter problemas étnicos mais acentuados, formou mais uma confederação. Seguiu-se a separação da Macedônia, com problemas menos acentuados e agora, após um plebiscito a de Montenegro, a menor da repúblicas iugoslavas, com menos de 20 mil km² e uma população de cerca de 650 mil habitantes. A província de Kosovo se encontra, há anos, sob a administração das Nações Unidas. 

Assim, a Iugoslávia viveu um sonho, que durou quase 80 anos, no conturbado mundo balcânico.
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O fim da Iugoslávia 
Publicado em 18.06.2006 

A república da Iugoslávia, após uma agonia que perdura há 15 anos, foi extinta em conseqüência de um plebiscito que separou as duas últimas repúblicas que a formavam: Montenegro e Sérvia. Na verdade, a Iugoslávia foi um país formado por povos eslavos que estiveram durante séculos dominados por dois impérios não eslavos, o austro-húngaro, dominantemente germânico, e o turco, muçulmano. 

Esta divisão criou culturas diferentes, de vez que ao norte formaram-se a Eslovênia e a Croácia, sob forte influência alemã e católica, e ao sul dominou a cultura grega na Sérvia, na Macedônia, e em Montenegro, da religião ortodoxa. No centro, na Bósnia-Herzegovina, numerosos eslavos se converteram ao islamismo, formando um bolsão muçulmano em plena Europa. Na realidade, apesar da influência da religião cristã ortodoxa, ocorre a existência de muçulmanos numerosos na Albânia, na Bósnia e na Macedônia. As diferenças religiosas entre católicos e ortodoxos, por um lado e entre cristãos e muçulmanos por outro complica muito o xadrez político balcânico. E como entre estes povos os que tem maior importância política são os croatas e os sérvios, as divergências entre os dois são cada vez mais aguçadas e as guerras balcânicas são muito freqüentes. 

A unificação política que se seguiu à Primeira Guerra Mundial provocou a criação do Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, tendo como soberano o rei da Sérvia. Só em 1929 é que, admitindo a consolidação da união política, o país passou a se denominar Iugoslávia ou Slavia do Sul. O rei porém tinha grande vocação ditatorial e impôs um regime autoritário, que provocou em 1934 o seu assassinato. O herdeiro do trono era menor de idade e o regente de forte vocação autoritária aproximou-se durante a Segunda Guerra Mundial da Alemanha hitlerista. Um golpe palaciano o destituiu do poder e levou a Iugoslávia a apoiar os aliados e a Alemanha a invadi-la de forma fulminante, ocupando imediatamente todo o país. Durante o domínio alemão a Croácia foi separada da Sérvia e recebeu tratamento de aliada ao Eixo. Foi transformada em reino e teve como soberano o duque de Spoleto, sobrinho do rei da Itália. 

Os iugoslavos lutaram contra o domínio do Eixo e, conduzidos pelo marechal Tito, conseguiram após a guerra recuperar a independência e a unidade. Tito, comunista, não aceitou ficar na área de influência britânica e tratou de construir no seu país um sistema socialista baseado na autogestão, contrariando Stalin, que o expulsou da Internacional Comunista. Reorganizou o país como uma república federativa, composta de seis repúblicas autônomas – Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia, Montenegro e Macedônia. Criou ainda duas províncias autônomas sob administração sérvia, a Voivedina, habitada por minoria húngara, e o Kosovo, com população dominantemente albanesa. 

Apesar das disputas internas de ordem étnica e religiosa, a Iugoslávia viveu seus grandes dias durante o longo governo de Tito. Seu socialismo autogestionário foi respeitado e imitado em vários países. A morte de Tito e as aspirações de dominação política da Sérvia provou o desejo de independência das repúblicas que compunham a Iugoslávia e a conseqüente proclamação da independência da Eslovênia em 1991, seguida da independência da Croácia, que deu origem a cruenta guerra civil, face ao fato de haver fortes minorias servias na mesma, seguida da luta na Bósnia. Esta provocaria a intervenção européia e a independência de mais dois países, sendo que a Bósnia-Herzegovina, por ter problemas étnicos mais acentuados, formou mais uma confederação. Seguiu-se a separação da Macedônia, com problemas menos acentuados e agora, após um plebiscito a de Montenegro, a menor da repúblicas iugoslavas, com menos de 20 mil km² e uma população de cerca de 650 mil habitantes. A província de Kosovo se encontra, há anos, sob a administração das Nações Unidas. 

Assim, a Iugoslávia viveu um sonho, que durou quase 80 anos, no conturbado mundo balcânico.
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