segunda-feira, julho 22, 2013

Coluna: Manuel Correia de Andrade.

O São Francisco e o Nordeste.
Publicado em 16.04.2006

O Nordeste, ainda hoje, como no passado, é a região problema do Brasil. Situado em uma região considerada seca, ou mais precisamente, subúmida, possui clima quente e tem sua maior porção localizada sobre rochas cristalinas, o seu regime pluviométrico é muito irregular, com chuvas concentradas em uns poucos meses do ano, apresenta também drenagem fluvial exorreica, o que impede o acúmulo das águas das chuvas, tanto na superfície do solo como a que se acumula em rochas permeáveis subterrâneas. A concentração das chuvas em curtos períodos do ano e o rápido escoamento para o oceano, aliada a uma elevada taxa de evaporação, fazem com que seus extensos maciços sejam recobertos por uma vegetação de pequeno porte e pouca densidade, em geral de caatinga, o que dificulta a acumulação d’água durante meses e, nos anos de menores taxas pluviométricas, durante anos.

Região muito povoada é, talvez, a área semi-árida da Terra que apresenta maior densidade populacional. Neste território destacam-se dois rios perenes, com volumes d’água expressivos: o São Francisco e o Parnaíba, sendo o primeiro muito mais importante que o segundo, tanto pelo percurso que faz no território nordestino – desde a nascente até a foz – como pelo seu volume d’água. O São Francisco tem quase todo o seu curso em áreas de rochas cristalinas, com algumas manchas sedimentares, enquanto o Parnaíba percorre a famosa bacia sedimentar do Piauí–Maranhão. O São Francisco tem sido aproveitado pelo homem, através de realização de obras hidráulicas e de utilização de suas águas na irrigação. A sua descaracterização já foi salientada por Vasconcelos Sobrinho, há mais de 40 anos.

Ele tem sido alvo de programas como o da transposição de suas águas para irrigação de terras no Ceará, na Paraíba e no Rio Grande do Norte e para ao chamado Canal do Sertão, em Pernambuco, o que traria água, captada a montante de Sobradinho, para o Sertão pernambucano. O problema da transposição das águas tem sido objeto de grandes discussões sobre a conveniência ou não de fazê-la. Há uma grande preocupação, tanto de ordem técnica, de engenharia propriamente dita, como ecológica, econômica e social, a ser discutida.

Achamos, salvo o melhor juízo, que é hora de se fazer um estudo integrado do grande rio, antes de se tomar decisões definitivas que possam mais tarde, trazer problemas mais sérios. Seria oportuno fazer-se um levantamento de obras fundamentais, sobre este rio e sua bacia, escritas no século 19, como a de Halfeld, de Burton, de Saint Hilaire e de Teodoro Sampaio, seguidas de outros publicados no século 20, como estudos de Proença Cavalcanti, de Luiz Flores Morais Rego e Geraldo Rocha, e, mais recentemente, obras como as de Marcos Antonio Coelho e de Abdias Moura. Há também documentos produzidos pela Chesf, pela Codevasf e pelo Banco do Nordeste, assim como publicações oficiais de governos estaduais e de empresas ligadas à área do grande rio. Grande parte desses livros foi reeditada em edições acessíveis ao público, mas alguns deles, como o de Halfeld, são praticamente inacessíveis e necessitariam patrocínio para publicação, patrocínio que poderia vir de empresa e de órgãos estatais que atuam na região. O debate desses trabalhos a respeito do rio São Francisco, descritos por estas figuras ilustres, quando o interesse maior estava no desenvolvimento da navegação, e a situação atual com numerosas barragens que interrompem seu curso, o despejo dos esgotos de numerosas cidades e a utilização de suas águas para a produção de energia e para irrigação seriam objeto de estudos para um grande seminário, ou para alguns projetos de pesquisas, como sugeriremos oportunamente.

Manuel Correia de Andrade, historiador e geógrafo, é da APL.
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O São Francisco e o Nordeste.
Publicado em 16.04.2006

O Nordeste, ainda hoje, como no passado, é a região problema do Brasil. Situado em uma região considerada seca, ou mais precisamente, subúmida, possui clima quente e tem sua maior porção localizada sobre rochas cristalinas, o seu regime pluviométrico é muito irregular, com chuvas concentradas em uns poucos meses do ano, apresenta também drenagem fluvial exorreica, o que impede o acúmulo das águas das chuvas, tanto na superfície do solo como a que se acumula em rochas permeáveis subterrâneas. A concentração das chuvas em curtos períodos do ano e o rápido escoamento para o oceano, aliada a uma elevada taxa de evaporação, fazem com que seus extensos maciços sejam recobertos por uma vegetação de pequeno porte e pouca densidade, em geral de caatinga, o que dificulta a acumulação d’água durante meses e, nos anos de menores taxas pluviométricas, durante anos.

Região muito povoada é, talvez, a área semi-árida da Terra que apresenta maior densidade populacional. Neste território destacam-se dois rios perenes, com volumes d’água expressivos: o São Francisco e o Parnaíba, sendo o primeiro muito mais importante que o segundo, tanto pelo percurso que faz no território nordestino – desde a nascente até a foz – como pelo seu volume d’água. O São Francisco tem quase todo o seu curso em áreas de rochas cristalinas, com algumas manchas sedimentares, enquanto o Parnaíba percorre a famosa bacia sedimentar do Piauí–Maranhão. O São Francisco tem sido aproveitado pelo homem, através de realização de obras hidráulicas e de utilização de suas águas na irrigação. A sua descaracterização já foi salientada por Vasconcelos Sobrinho, há mais de 40 anos.

Ele tem sido alvo de programas como o da transposição de suas águas para irrigação de terras no Ceará, na Paraíba e no Rio Grande do Norte e para ao chamado Canal do Sertão, em Pernambuco, o que traria água, captada a montante de Sobradinho, para o Sertão pernambucano. O problema da transposição das águas tem sido objeto de grandes discussões sobre a conveniência ou não de fazê-la. Há uma grande preocupação, tanto de ordem técnica, de engenharia propriamente dita, como ecológica, econômica e social, a ser discutida.

Achamos, salvo o melhor juízo, que é hora de se fazer um estudo integrado do grande rio, antes de se tomar decisões definitivas que possam mais tarde, trazer problemas mais sérios. Seria oportuno fazer-se um levantamento de obras fundamentais, sobre este rio e sua bacia, escritas no século 19, como a de Halfeld, de Burton, de Saint Hilaire e de Teodoro Sampaio, seguidas de outros publicados no século 20, como estudos de Proença Cavalcanti, de Luiz Flores Morais Rego e Geraldo Rocha, e, mais recentemente, obras como as de Marcos Antonio Coelho e de Abdias Moura. Há também documentos produzidos pela Chesf, pela Codevasf e pelo Banco do Nordeste, assim como publicações oficiais de governos estaduais e de empresas ligadas à área do grande rio. Grande parte desses livros foi reeditada em edições acessíveis ao público, mas alguns deles, como o de Halfeld, são praticamente inacessíveis e necessitariam patrocínio para publicação, patrocínio que poderia vir de empresa e de órgãos estatais que atuam na região. O debate desses trabalhos a respeito do rio São Francisco, descritos por estas figuras ilustres, quando o interesse maior estava no desenvolvimento da navegação, e a situação atual com numerosas barragens que interrompem seu curso, o despejo dos esgotos de numerosas cidades e a utilização de suas águas para a produção de energia e para irrigação seriam objeto de estudos para um grande seminário, ou para alguns projetos de pesquisas, como sugeriremos oportunamente.

Manuel Correia de Andrade, historiador e geógrafo, é da APL.
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