sexta-feira, setembro 30, 2016

Coluna: Manuel Correia de Andrade.

Encontrando o Brasil
Publicado em 11.02.2007

O Seminário Redescobrindo o Brasil III foi promovido pela Cátedra Gilberto Freyre, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFPE, nos dias 12, 13 e 14 de dezembro passado. Foi um verdadeiro encontro entre a inteligência brasileira e a realidade, de vez que dele participaram profissionais dos vários ramos do saber, como políticos, jornalistas, escritores, professores e estudantes universitários, e de regiões diversas do território nacional. Foram discutidos os vários problemas que afligem ao Brasil, como Estado, Nação e o Nordeste como região.

Se a questão nacional abriu o ciclo de mesas-redondas, mostrando as franquezas e as afirmativas federalistas e republicanas do pensamento nacional, levou em conta também o problema da região dentro da Nação, e a Nação no espaço terrestre diante da globalização. Levou-se em conta o cruzamento dos problemas oriundos das bases naturais e da exploração do meio ambiente, ao mesmo tempo das tensões regionais entre Estados federados e aspirações regionais.

Na mesa-redonda sobre Euclides da Cunha, foram debatidos os problemas do Nordeste e da Amazônia, com as suas variedades e suas identificações, observando-se o cruzamento das pressões naturais e sociais. Deve-se levar em conta também o problema da raça e do racismo, que dominou no início do século 20, quando a elite colonial em grande parte pensava que o Brasil tendia a se tornar um país branco, face à imigração européia, tornando-se uma autêntica Europa tropical.

Pensamento que seria mais acentuado ainda em Oliveira Viana, partidário de um sistema corporativo e unitário para o Brasil, procurando fazer esquecer os traços federativos implantados com a República e que levaria o Brasil à ditadura do Estado Novo. Ele foi tão rancoroso em relação à sua filosofia que, ao ser publicado o livro de Gilberto Freyre Casa-grande & senzala, ele não só o condenou, como oficialmente recusou-se a ler. E este livro provocou forte reação dos neo-fascistas do Estado Novo, a ponto de uma revista do Recife afirmar que o seu título deveria ser Casa-grande sem sala e não Casa-grande & senzala.

A figura de Nabuco que foi debatida é aquela projetada pelo aristocrata-abolicionista que, abandonando as facilidades da oligarquia, defendeu com unhas e dentes a abolição da escravatura, com a complementação da obra da escravidão, a profundidade e a perpetuidade do latifúndio, através do que chamou de democracia social. E Nabuco tentou conciliar os impossíveis, a monarquia com a federação, o trabalho livre com a colonização estrangeira, européia, batendo-se contra a imigração asiática, que chamava de mongol, não por razões raciais, mas porque ela trazia embutida formas simuladas de escravidão periódica.

Mas o seminário se preocupou também com o ensino, utilizando como veículo a geografia, ciência fundamental ao conhecimento do Brasil e de sua realidade, destacando a ação do geógrafo e cientista político Delgado de Carvalho, e do didata e geógrafo Aroldo de Azevedo. Por que essa preocupação de ordem didática ou paradidática? Primeiro para fortalecer o conhecimento do Brasil e de uma realidade que está em permanente transformação, segundo, com a finalidade de comprometer os professores de ensino médio e superior no trabalho de permanente reconstrução do Brasil, levando o professor a refletir sobre a realidade em que ele vive e que transmite aos estudantes.

Assim, ao levar o ouvinte a meditar sobre a obra de Aroldo de Azevedo, busca-se afastar o aluno do ato da memorização e substituí-lo pelo da reflexão. Para que o aluno não só leia os livros didáticos, que ao meu ver são essenciais, como também outros textos como romances, poesias, crônicas, ensaios que refletem a realidade que os cerca e que é a realidade em que eles vivem.

A Cátedra Gilberto Freyre espera ter unido no seminário que promoveu em dezembro um congraçamento da intelectualidade pernambucana em torno do tema brasileiro, a fim de poder contribuir para a construção do Brasil.

Manuel Correia de Andrade, historiador e geógrafo, é da APL.

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Encontrando o Brasil
Publicado em 11.02.2007

O Seminário Redescobrindo o Brasil III foi promovido pela Cátedra Gilberto Freyre, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFPE, nos dias 12, 13 e 14 de dezembro passado. Foi um verdadeiro encontro entre a inteligência brasileira e a realidade, de vez que dele participaram profissionais dos vários ramos do saber, como políticos, jornalistas, escritores, professores e estudantes universitários, e de regiões diversas do território nacional. Foram discutidos os vários problemas que afligem ao Brasil, como Estado, Nação e o Nordeste como região.

Se a questão nacional abriu o ciclo de mesas-redondas, mostrando as franquezas e as afirmativas federalistas e republicanas do pensamento nacional, levou em conta também o problema da região dentro da Nação, e a Nação no espaço terrestre diante da globalização. Levou-se em conta o cruzamento dos problemas oriundos das bases naturais e da exploração do meio ambiente, ao mesmo tempo das tensões regionais entre Estados federados e aspirações regionais.

Na mesa-redonda sobre Euclides da Cunha, foram debatidos os problemas do Nordeste e da Amazônia, com as suas variedades e suas identificações, observando-se o cruzamento das pressões naturais e sociais. Deve-se levar em conta também o problema da raça e do racismo, que dominou no início do século 20, quando a elite colonial em grande parte pensava que o Brasil tendia a se tornar um país branco, face à imigração européia, tornando-se uma autêntica Europa tropical.

Pensamento que seria mais acentuado ainda em Oliveira Viana, partidário de um sistema corporativo e unitário para o Brasil, procurando fazer esquecer os traços federativos implantados com a República e que levaria o Brasil à ditadura do Estado Novo. Ele foi tão rancoroso em relação à sua filosofia que, ao ser publicado o livro de Gilberto Freyre Casa-grande & senzala, ele não só o condenou, como oficialmente recusou-se a ler. E este livro provocou forte reação dos neo-fascistas do Estado Novo, a ponto de uma revista do Recife afirmar que o seu título deveria ser Casa-grande sem sala e não Casa-grande & senzala.

A figura de Nabuco que foi debatida é aquela projetada pelo aristocrata-abolicionista que, abandonando as facilidades da oligarquia, defendeu com unhas e dentes a abolição da escravatura, com a complementação da obra da escravidão, a profundidade e a perpetuidade do latifúndio, através do que chamou de democracia social. E Nabuco tentou conciliar os impossíveis, a monarquia com a federação, o trabalho livre com a colonização estrangeira, européia, batendo-se contra a imigração asiática, que chamava de mongol, não por razões raciais, mas porque ela trazia embutida formas simuladas de escravidão periódica.

Mas o seminário se preocupou também com o ensino, utilizando como veículo a geografia, ciência fundamental ao conhecimento do Brasil e de sua realidade, destacando a ação do geógrafo e cientista político Delgado de Carvalho, e do didata e geógrafo Aroldo de Azevedo. Por que essa preocupação de ordem didática ou paradidática? Primeiro para fortalecer o conhecimento do Brasil e de uma realidade que está em permanente transformação, segundo, com a finalidade de comprometer os professores de ensino médio e superior no trabalho de permanente reconstrução do Brasil, levando o professor a refletir sobre a realidade em que ele vive e que transmite aos estudantes.

Assim, ao levar o ouvinte a meditar sobre a obra de Aroldo de Azevedo, busca-se afastar o aluno do ato da memorização e substituí-lo pelo da reflexão. Para que o aluno não só leia os livros didáticos, que ao meu ver são essenciais, como também outros textos como romances, poesias, crônicas, ensaios que refletem a realidade que os cerca e que é a realidade em que eles vivem.

A Cátedra Gilberto Freyre espera ter unido no seminário que promoveu em dezembro um congraçamento da intelectualidade pernambucana em torno do tema brasileiro, a fim de poder contribuir para a construção do Brasil.

Manuel Correia de Andrade, historiador e geógrafo, é da APL.

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